Desinformação prejudica o aleitamento

O leite materno, até o sexto mês de vida, deve ser o alimento exclusivo dos bebês. O produto, além de ser natural e gratuito, é considerado insubstituível, podendo suprir todas as necessidade alimentares da criança. A partir do sétimo mês de vida, deve continuar sendo utilizado, ao mesmo tempo em que se oferece à criança outros tipos de alimento. Apesar disso, no Brasil e em diversos países do mundo, muitas mulheres ainda deixam de amamentar seus filhos no peito devido a uma série de preconceitos e desinformações.

“Todos os bebês têm o direito de receber o leite materno”, declara o coordenador da Rede Nacional de Bancos de Leite Humano, João Aprígio Guerra de Almeida, que ontem participou de uma palestra sobre o assunto no Tuca, teatro da Pontifícia Universidade Católica (PUC). “Amamentar é um sinal de carinho e proteção, podendo evitar uma série de doenças e problemas futuros à criança.”

Entre os principais motivos que levam as mulheres a não amamentarem estão as crenças na existência de leite fraco e de que a amamentação faz com que os seis se tornem flácidos. “São idéias erradas que, infelizmente, ainda hoje são tidas como verdadeiras por algumas mulheres”, diz Aprígio.

Cultura européia

Segundo ele, a cultura da não-amamentação começou a ser inserida no Brasil no momento da colonização. O ato de amamentar era mal visto pelas mulheres brancas européias. “Para elas, amamentar causava prejuízos à estética corporal e era função das negras, tidas como amas de leite”, explica o coordenador.

Esta crença começa a mudar apenas em 1800, com a chegada da Medicina ao Brasil. Os profissionais de saúde da época começaram a valorizar o leite materno com o objetivo de reduzir a mortalidade infantil. Porém as informações não chegavam as camadas mais carentes da sociedade, já que a medicina era voltada às elites. O problema ainda era grave.

No final do século XIX, em um momento de ascensão da burguesia, chegam ao país o leite condensado e a farinha láctea, que passam a fazer parte da alimentação dos bebês e a diminuir a importância do leite materno. A mamadeira vira símbolo de modernidade e urbanismo. “Os leites industrializados passam a ser valorizados e até recomendados pelos pediatras, que ainda não dispunham de muita informação”, comenta João Aprígio.

Nos anos 40, pesquisas revelaram que 85% dos óbitos infantis, na época, entre crianças com menos de um ano de idade, estavam associados ao uso da mamadeira. Há uma tentativa quase que fracassada de reverter o quadro e, em 1943, é implantado o primeiro banco de leite no país.

Primeiras campanhas

Em 1979, descobriu-se que a desnutrição crônica atingia 48% da população brasileira e que isto poderia estar ligado à substituição do leite materno pelo leite industrializado. É neste ano que começam surgir as primeiras campanhas fortes em benefício do aleitamento materno. Artistas famosos, como as atrizes Lucélia Santos e Maria Zilda, abraçam a causa e passam a defender o leite materno na TV. Uma série de discussões e palestras sobre o assunto passam a ser promovidas.

No início da década de 90, estudos revelaram que boa parte dos desmames começavam dentro dos ambientes das maternidades. Trabalhos passaram a ser realizados para mudar a cultura de médicos, enfermeiros e demais funcionários dos hospitais. “Estes trabalhos geraram resultados bastante positivos”, declara Aprígio. “Hoje, o número de mulheres que amamentam ainda não é o ideal. Porém, é bem maior do que o verificado no passado.”

A boa notícia é que, devido ao maior acesso à informação, a expectativa dos profissionais de saúde é de que, nos próximos anos, o número de bebês amamentados no peito cresça consideravelmente.

Benefícios

De acordo com o coordenador, o leite materno é composto de lipídeos, lactose, sais minerais, vitaminas, água e mais de trezentas outras substâncias. Tem a capacidade de reduzir a mortalidade infantil, o número de internamentos hospitalares, os gastos com profissionais de saúde e a aquisição de remédios e outros tipos de leite.

O aleitamento materno previne alergias, alterações ortodônticas, diabetes e outras doenças que podem aparecer a curto e longo prazo. Também evita infecções respiratórias, intestinais, urinárias, de pele e de ouvido.

Voltar ao topo