Retaliação

Demissão gera protesto dos trabalhadores

Dezenas de motoristas e cobradores de ônibus da Viação Graciosa estiveram reunidos na tarde desta segunda-feira (16) nos fundos da empresa, no bairro Prado Velho, para contestar a demissão sem justa causa da funcionária Thabatta Ribeiro, de 23 anos. A cobradora foi um dos 13 trabalhadores que, na semana passada, expôs sua insatisfação com a alteração semanal da escala de horário, bem como os longos intervalos entre parada e retomada do trabalho.

Para Thabatta e os dirigentes do Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) o desligamento pareceu uma retaliação da empresa. “Há muito tempo os trabalhadores reclamam do abuso na montagem da escala. O grupo que ousou reclamar ficou visado. E se não fosse a intervenção do Sindimoc, a lista de demitidos teria sido maior”, lamentou o vice-presidente do Sindimoc, Dino Cesar.

A cobradora demitida chorava sem parar com a arbitrariedade da demissão. “Mesmo sem concordar com a escala, não deixei de cumpri-la”, assegura. Na sexta, o horário da cobradora foi das 15h às 21h; no sábado, das 18h às 00h; no domingo, das 17h às 23h. Ontem, Thabatta começou às 5h50 e horas depois precisou “fechar a sessão” para se dirigir à empresa, onde foi demitida sem qualquer explicação. “Passei trabalhando nos dias 24, 25 e 31 de dezembro, e dia 1 de janeiro, sem falhar com a empresa. Em sete meses, perdi a conta das vezes que interrompi a folga para cobrir alguma falta de funcionário para, agora, estar desempregada”, relata.

Os transtornos na rotina dos trabalhadores por conta da variação nos turnos de trabalho – em um dia o trabalhador inicia de madrugada, no outro encerra a jornada de seis horas às 00h – agravam-se com outro abuso na organização da jornada, os longos intervalos entre as paradas e retomadas.

O motorista Luiz Roberto Mulek, que há 13 anos está na Viação Graciosa, diz que somente nos primeiros quatro anos de empresa teve a “sorte” de trabalhar em uma escala fixa. “Rodava das 5h às 11h e estava cumprida a missão do dia”, recorda. “Hoje o que eles fazem não é certo, mas como preciso do emprego e não vou jogar 13 anos fora, eu acabo me submetendo a uma jornada que me deixa com um buraco e compromete muito mais do que as seis horas diárias”, conta.

Nesta semana, por exemplo, Mulek começará a jornada às 5h20 e seguirá até 11h40. Depois retornará 16h30 e vai parar 19h40. “Eles vão pagar as horas extras, mas com esse intervalo, fico amarrado o dia todo com a empresa”, aponta.

A Viação Graciosa foi procurada pela Tribuna, mas até o fechamento não deu retorno, nem respondeu ao email. Ainda na tarde de ontem, em reunião com a diretoria da empresa, o advogado do Sindimoc, Rafael Lorenzoni, disse que a Viação aceitou rever sua decisão sobre a demissão da cobradora e a pauta de reivindicações do Sindicato questionando às condições de trabalho. Hoje, às 14horas, está marcada uma reunião entre as partes, na sede do Sindimoc, em busca de um acordo.

Serviços rodoviários

Outro ponto de questionamento é o fato de 15 funcionários entre motoristas e cobradores do sistema de transporte coletivo de Curitiba terem sido deslocados para Paranaguá no final do ano, com o objetivo de cobrir os serviços rodoviários da Viação Graciosa.

“Fugiu da base dos trabalhadores, eles assumiram funções diferentes do cargo e o Ministério Público do Trabalho fez vistas grossas ao uso de motoristas do transporte coletivo urbano, no transporte rodoviário”, acuso o vice-presidente do Sindimoc, Dino César.

Segundo a Urbanização de Curitiba (Urbs), não houve registro de descumprimento nas escalas de horário. Quanto a relação entre empresa e funcionários, a Urbs não pode interferir.