Cursos menos disputados têm boas oportunidades

No momento da escolha de uma profissão, as pessoas geralmente levam em conta suas habilidades pessoais, o status que a atividade proporciona, a relação candidato por vaga no vestibular e o mercado de trabalho. Na UFPR, os cursos mais procurados costumam ser Medicina – que no último vestibular teve 31,89 candidatos por vaga – e Publicidade e Propaganda – com 26,47 candidatos por vaga.

Porém, nem sempre os cursos da moda ou os mais disputados são aqueles que possuem maior disponibilidade de vagas de emprego e oferecem os melhores salários. Em alguns cursos menos conhecidos pelos estudantes de ensino médio e, conseqüentemente, menos concorridos, muitas vezes há demanda grande de vagas e melhores oportunidades de crescimento profissional.

É o caso de Estatística, que no último vestibular teve 3,15 candidatos por vaga; Ciências Econômicas, que no período noturno teve 4,59 candidatos por vaga, e Engenharia Industrial Madeireira, com 6,53. “Falta um pouco de divulgação desses cursos. Em alguns, também acontece de os alunos entrarem e depois abandonarem os estudos. Isso ocorre ou porque eles descobrem que não possuem afinidade com a área, pelas dificuldades apresentadas ou por motivo de trabalho”, diz a professora e técnica em assuntos educacionais da UFPR, Madeleine Lima.

Para Estatística, a UFPR disponibiliza 66 vagas anuais. Embora o curso seja pouco procurado, e no decorrer dos períodos um grande número de alunos o abandonem, muitas vezes os estudantes que se dedicam à área já conseguem emprego mesmo antes de estarem com o diploma de graduação em mãos. Na universidade, eles participam de empresas júnior. Já os profissionais são bastante procurados para atuar na área médica.

Economia

Para Ciências Econômicas, são 220 vagas, sendo metade no período noturno e metade no diurno. Segundo o coordenador do curso, Paulo Mello Garcias, o mercado de trabalho na área de Economia tem tido uma dinâmica bastante grande, principalmente nas últimas décadas. “Os profissionais de Ciências Econômicas sempre tiveram uma atuação bastante forte no governo, lidando com planejamento e finanças”, afirma. “Nos últimos anos, o número de concursos públicos foi reduzido e passou a haver uma maior expansão de vagas dentro do setor privado”.

Na iniciativa privada, os economistas têm grandes chances de atuar na área de sistemas bancários, trabalhando com aplicação financeira, análise de investimentos, mercado de capitais, entre outras coisas. “Em empresas em geral, nas médias e grandes, também há uma demanda de profissionais para atuarem com captação de recursos, investimento, lançamento de ações e elaboração de projetos de investimento”.

Paulo explica que estão em franca expansão as áreas de Economia e Comércio Internacional e Economia Agroindustrial. Para conseguir um emprego dentro delas, geralmente os profissionais precisam de um curso de especilização.

Afinidade ainda é fundamental

Outro curso com bom mercado é o de Engenharia Industrial Madeireira, exclusivo da UFPR. Ele começou a ser oferecido em 2000, mas foi reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) em agosto deste ano. Atualmente são disponibilizadas 60 vagas. “A primeira colação de grau na área aconteceu no último mês de março. Vinte e dois estudantes se formaram e todos eles estão encaminhados dentro do mercado de trabalho”, comenta o coordenador Umberto Klock.

De acordo com ele, existe mercado de trabalho para profissionais graduados na área em todas as regiões do País, principalmente em cidades do interior. Os profissionais podem atuar em empresas de serrados, papel e celulose, painéis de madeira, moveleiras, de gestão e qualidade. “Em média, recém-formados recebem salários que variam de R$ 1,5 mil a R$ 2,8 mil. Entretanto, devido à escassez de mão-de-obra qualificada, existem grandes possibilidades de se progredir rapidamente dentro da profissão”.

Apesar da existência de vagas no mercado, os coordenadores dos três cursos citados declaram que, para que uma pessoa possa ser bem-sucedida profissionalmente, não basta que ela considere apenas a quantidade de vagas de trabalho e os valores salariais. É necessário ter afinidade com o curso escolhido. Em Estatística e Ciências Econômicas, por exemplo, é fundamental ter afinidade com cálculo e matemática. Já em Engenharia Industrial Madeireira – que não costuma ter grande evasão de alunos – é preciso gostar de trabalhar com madeira, e mesmo ter disponibilidade para se deslocar a cidades do interior do País. (CV)

Profissões são desprestigiadas

Muitos profissionais sentem que suas áreas de atuação acabaram sendo desvalorizadas ao longo das últimas décadas. É o caso dos professores, que na maior parte do Brasil sofrem com os baixos salários, a falta de infra-estrutura em sala de aula e mesmo o desrespeito dos alunos.

Mas, apesar dos problemas, a Associação dos Professores do Paraná (APP) informa que a profissão ainda é bastante procurada. No último concurso para contratação de profissionais promovido pelo governo do Estado, ocorrido no ano passado, cerca de 50 mil pessoas se inscreveram para concorrer a 16 mil vagas. “Nos últimos anos, os estados começaram a investir menos em educação. Os recursos diminuíram e, em paralelo, a demanda por educação aumentou”, afirma o professor e integrante da APP, Luiz Carlos Paixão. “Com isso, os professores foram penalizados, principalmente na questão salarial. No Paraná, foi criado recentemente um plano de carreira à categoria, mas ele ainda é considerado insuficiente”.

Quanto à infra-estrutura, Paixão diz que as condições de trabalho dos professores devem ser alteradas. Atualmente, na maior parte do Brasil, os professores estão trabalhando em salas superlotadas, e não têm tempo suficiente para realizar estudos e preparar as aulas que serão dadas nos próximos dias. Já sobre a falta de respeito de grande parte dos alunos, o professor acredita que é “reflexo da sociedade atual, que convive com o aumento da violência, do individualismo e da competição”.

Aulas particulares

Os baixos salários também obrigam os professores a procurar formas alternativas de complementação salarial. Para muitos, a dedicação a aulas particulares acaba sendo uma opção para quando sobra tempo. “É uma forma de complementar a renda, mas faz com que os professores fiquem sobrecarregados, trabalhem três períodos e caiam na informalidade”, diz o professor de Matemática Luiz Carlos de Domenico. (CV)

Pós-graduação vira pré-requisito

Atualmente, poucos profissionais se contentam em concluir apenas um curso de graduação. Na tentativa de conquistar mais chances de trabalho e mesmo uma melhor remuneração, muitas pessoas com formação em terceiro grau estão optando por cursos de pós-graduação.

“A graduação é caracterizada pelo ensino de conhecimentos universais dentro de uma área específica, onde não se entra a fundo nas especificidades. Já na pós-graduação se faz um aprofundamento e se adquire uma especialidade”, explica o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da UFPR, Nivaldo Eduardo Rizzi. “A procura pelos cursos de pós-graduação tem sido grande”.

A especialização também vem se tornando uma exigência de mercado. Em muitas áreas, as empresas possuem vagas mas não conseguem encontrar profissionais com o perfil necessário para ocupá-las. Estão exigindo cada vez mais um potencial maior de conhecimentos e qualificações.

Além das pós, os mestrados e doutorados são opções para melhorar a formação profissional, incrementar o currículo e, assim, adquirir maior concorrência dentro do mercado de trabalho. “O mercado já trabalha com as especialidades e faz com que as titulações sejam fundamentais”, diz o pró-reitor.

Profissionais

Aqueles que aderiram às especializações confirmam as vantagens dos cursos. A jornalista Juliana Ferreira está concluindo uma pós-graduação em Comunicação Empresarial na PUCPR, e conta que o curso a está ajudando na abertura de uma empresa própria. “Eu já trabalhava com comunicação empresarial, decidi abrir uma empresa na área e achei que o curso iria me ajudar”, afirma. “A especialização me dá maior credibilidade junto aos clientes”.

Já o pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Moacir Daroylt, tem graduação em Agronomia e concluiu mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento na UFPR. Ele fez uma parte do curso no Brasil e outra na França. “O curso de graduação é um pouco limitado. Dependendo da área de atividade, outros cursos são quase um pré-requisito”, declara. (CV)

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