Curitiba reduz em quase 30% o número de gravidez entre adolescentes

A gravidez em adolescentes menores de 20 anos reduziu 27,8% em Curitiba em 2010 em relação a 2009. No ano passado, a cada 100 mulheres grávidas, 14,2% eram adolescentes, em um universo de 3.602 meninas. Em 2009, a cada 100 mulheres grávidas, 19,6% eram adolescentes, correspondendo a 5.713 jovens. Os dados são do Programa Mãe Curitibana, da Secretaria Municipal de Saúde.

A gravidez na adolescência geralmente é um grande impacto para as jovens e a família. Muitos problemas envolvem a adolescente quando fica grávida: evasão escolar, profissionalização deficiente, dificuldade de inserção no mercado de trabalho, isolamento social e familiar, maior risco de separação conjugal, ausência do pai durante a gestação e a vida da criança, sentimento de insegurança e maior vulnerabilidade para uma segunda gravidez.

‘Há um prejuízo emocional e social. Mas temos que avaliar que, dependendo da faixa etária, a gravidez não é indesejada’, avalia a psicóloga e coordenadora do Programa Adolescente Saudável, da prefeitura de Curitiba, Luciana Savaris.

Uma das estratégias de prevenção do programa para diminuir a gravidez na adolescência é trabalhar em conjunto com as escolas municipais e estaduais. O projeto Saúde e Prevenção nas Escolas promove oficinas e rodas de conversa sobre o assunto, numa linguagem para jovens.

A outra estratégia utilizada com os jovens é a Rede de Protagonismo Juvenil, em que os adolescentes são os facilitadores da discussão sobre a gravidez na adolescência.

Cuidados

No programa Mãe Curitibana, a gestante adolescente tem o acompanhamento no pré-natal, faz os exames laboratoriais, além de participar de oficinas sobre o pré-parto, parto, cuidados com a criança e métodos anticoncepcionais. ‘É muito fácil as adolescentes engravidarem novamente se não se cuidarem’, alerta o coordenador do programa Mãe Curitibana e ginecologista e obstetra, Edvin Javier Boza Jimenes.

As adolescentes grávidas do programa Mãe Curitibana são atendidas desde o pré-natal até o parto nas unidades municipais de saúde da prefeitura de Curitiba ou nos centros de referência que são o Hospital Victor Ferreira do Amaral e o Hospital do Trabalhador. Quando as adolescentes apresentam patologia de alto risco durante a gravidez, o pré-natal e o parto são feitos nos centros de referência, o Hospital de Clínicas ou o Hospital Evangélico.

Riscos

O coordenador do programa Mãe Curitibana alerta que durante a gravidez na adolescência há aumento de anemia e de hipertensão gestacional nas jovens, além de maior incidência de abortos espontâneos e partos prematuros. Ainda segundo o médico, aumentam os casos de bebês que nascem com baixo peso, natimortos e mortes prematuras.

Orientação e acompanhamento desde cedo

A ginecologista Maria Letícia Fagundes aponta que para reduzir o número de adolescentes grávidas é importante que as jovens procurem um ginecologista a partir dos dez anos, antes de chegar a menstruação. ‘O ginecologista faz o acompanhamento do desenvolvimento e auxilia na orientação da sexualidade. Antes da menstruação já aparecem os caracteres sexuais secundários, a mama e os pelos pubianos’, explica a médica.

Segundo Maria Letícia, é importante também que a adolescente estabeleça um relacionamento de confiança com o médico. A ginecologista diz que dependendo do perfil psicológico de cada menina, há orientação para utilizar métodos contraceptivos. ‘Há meninas que vêm inclusive com o namorado no consultório’, conta a ginecologista.

Casos

A adolescente G.S.S., 20 anos teve sua filha aos 18 anos. Ela conta que quando engravidou ningu&eacu,te;m ficou sabendo. Somente aos oito meses de gravidez, quando o bebê nasceu prematuro, é que seus pais e amigos souberam que estava grávida. Ela não fez o pré-natal. ‘Fui bem irresponsável nesta parte. Posso dizer que ignorei a gravidez e hoje falo com peso na consciência’, relata G.S.S.

Ela não teve problemas durante a gravidez e sua filha nasceu saudável. G.S.S. teve o total apoio da família. No entanto, o pai da criança somente a registrou e nunca mais foi visitá-la. ‘Eu não sinto falta porque tenho a ajuda de meus pais. Mas minha preocupação é minha filha; no futuro ela vai ter a curiosidade de conhecer o pai. Apesar de meu pai e meu irmão serem totalmente presentes na vida de minha filha. Ela tem as figuras masculinas’, diz G.S.S.

A adolescente não abandonou os estudos e conseguiu trabalhar graças ao apoio dos pais. Atualmente a mãe de G.S.S. cuida de sua filha no período da manhã e à tarde a criança vai ao colégio. ‘Hoje minha filha é minha razão de viver’, reconhece G.S.S.