Falta muito

Curitiba precisa melhorar atendimento aos estrangeiros

Desde que Curitiba foi confirmada como uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, uma pergunta não sai da cabeça de muita gente. Será que a cidade está preparada para receber os turistas estrangeiros durante este evento de grande porte? Para esclarecer a dúvida, a reportagem da Tribuna decidiu levar um estrangeiro para percorrer a cidade e testar alguns dos principais serviços turísticos de Curitiba.

Durante uma tarde inteira, o italiano Nicolas Alberga, sócio da escola Babel Idiomas, esteve em importantes pontos da cidade, abordando atendentes em três línguas diferentes – inglês, francês e italiano – para verificar a reação deles. O resultado mostrou que Curitiba ainda tem que melhorar muito antes do início do campeonato.

Arena

O primeiro lugar visitado por Alberga foi o próprio Estádio Joaquim Américo, a Arena da Baixada, onde serão realizados os quatro jogos da Copa previstos para Curitiba. Antes de procurar os próprios atendentes do estádio, o ‘turista’ pediu informações para um policial militar do módulo do Parque Afonso Botelho, praça localizada exatamente em frente à Arena. Em ambos os casos, as pessoas abordadas entenderam somente algumas palavras ditas por Alberga e não conseguiram prestar as informações desejadas adequadamente.

“Perguntei ao policial se estava próximo ao estádio da Copa. Ele me pediu, em português, para falar mais devagar e respondeu à pergunta apontando com o dedo a localização do estádio. Já a atendente da Arena entendeu que eu queria fazer uma visita porque a palavra ‘visit’ (visita, em inglês) é muito parecida em português. Então, ela me disse o horário da visita e me entregou um folheto com informações, mas tudo em português”, contou.

Sem treinamento

Ao ser questionado sobre a abordagem do ‘turista’, o policial militar, que preferiu não ser identificado, afirmou que, até o momento, não houve qualquer treinamento “nem de segurança nem de idiomas em relação à Copa”. Na Arena, a situação era a mesma. “Quando aparecem turistas estrangeiros para fazer a visita aqui no clube, normalmente eles falam espanhol, que é mais fácil de entender, ou vêm em grupo, com seu próprio intérprete. Como a responsável pelo estádio durante a Copa é a Fifa, e não o clube, ainda não sabemos como vai ser”, explicou a atendente Marzza Reis.

Prefeitura prepara soluções

Segundo a presidente do Instituto Municipal de Turismo de Curitiba, Juliana Vosnika, Curitiba recebe 3,5 milhões de turistas por ano, mas somente 5% deles são estrangeiros e a maioria ainda vem de países onde se fala espanhol, língua mais facilmente compreendida pelos brasileiros. No entanto, ela garante que, mesmo assim, o município está se preparando para receber os turistas durante a Copa do Mundo de 2014. “A cidade está preocupada em atender essa demanda sim, mas essa é uma questão que não é possível resolver de uma hora para outra”, avaliou.

As ações que já estariam em andamento seriam a revitalização do site de informações turísticas da cidade, a implantação de novas centrais de atendimento e a tradução de um aplicativo para smartphones e tablets chamado ‘Curta Curitiba’ para o inglês, além da capacitação prestadores de serviço em hotéis, restaurantes e órgãos públicos. “Só neste ano, já fizemos capacitação com mais de mil pessoas, como lojistas, policiais e agentes de trânsito”, completa. Ela ainda lembra que a linha de ônibus de turismo da cidade já é uma referência, com gravações das informações turísticas dos pontos visitados em espanhol e inglês.

Alternativas

Além das soluções ‘tradicionais’ planej,adas pela Prefeitura, o professor do MBA em Inteligência de Mercado da Universidade de São Paulo (USP), Ramiro Gonçalez, acredita que Curitiba deveria adotar outras alternativas para facilitar o acesso do turista às informações durante a Copa. “Uma solução extremamente simples seria treinar os agentes de trânsito da Diretran para que eles possam informar os turistas em outra língua, pois já estão uniformizados e servem de referência para qualquer pessoa que esteja na rua porque são reconhecidos como autoridade”, sugeriu.

Outra alternativa que o professor aponta é a utilização das próprias calçadas e ruas como opção na veiculação de informações turísticas. “Poderia haver uma sinalização mostrando os caminhos do estádio, dos hotéis, dos pontos turísticos, até mesmo com patrocínio de empresas privadas locais. Aliado a isso, poderíamos ter um serviço de locação de bicicletas, por exemplo”, comenta.

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