Curitiba não tem espaço para lotes populares

De 2001 para cá a Prefeitura de Curitiba regularizou cerca de três mil lotes, e estão em andamento outros 5.710. No entanto, segundo dados de 2000, ainda existem cerca de 45 mil lotes que precisam passar pelo mesmo processo. O problema é que pelo menos 10 mil famílias precisam ser deslocadas para outros lugares, porque estão em situação de risco ou construíram a casa em área de proteção ambiental. Mas a capital já não tem mais grandes áreas para comportar tanta gente. As que existem são pequenas e muito caras. A solução seria avançar para a Região Metropolitana.

Hoje, 56 famílias que moram na margem do Arroio Cercado, na ocupação conhecida como Xapinhal, no Sítio Cercado, estão de casa nova. Elas foram beneficiadas pelo programa Nossa Vila, e estão sendo relocadas para um loteamento próximo de onde moravam, com a infra-estrutura necessária. Até o fim do ano, outras 97 vão ter o mesmo destino, totalizando no Xapinhal 529 famílias transferidas. Já os outros 1,7 mil moradores ficam onde estão, mas ganharam a escritura de seus lotes e benfeitorias no bairro. Todos vão pagar pelo terreno e pela casa mensalidades que não ultrapassam 15% da renda familiar.

Mas o problema da moradia ainda está longe de ser solucionado. Em Curitiba faltam áreas para a criação de loteamentos populares. Só a região do Umbará concentra grandes vazios. Mas lá existem várias restrições ambientais. As outras áreas são pequenas e melhor localizadas, o que encarece o valor do metro quadrado: “As pessoas de baixo poder aquisitivo não vão ter condições de pagar as prestações”, comenta o coordenador do programa, Valter Rebelo. Segundo ele, um lote com infra-estrutura mínima custa cerca de R$ 9 mil, se tiver que ser construída uma casa sobe para R$ 20 mil – o que daria um total de R$ 200 milhões para ajudar as 10 mil famílias. Se o terreno for muito caro os valores sobem mais ainda.

Em Curitiba, as regiões que concentram o maior número de ocupações são a regional do Cajuru, Uberaba, Cidade Industrial, Sítio Cercado e Pinheirinho. Uma das maiores é a Vila Audi, no Cajuru, próxima à Avenida das Torres. Lá vivem cerca de três mil famílias, e todas teriam que ser retiradas do local, que é fundo de vale.

Para encontrar lugar para tanta gente a saída seria avançar em direção à Região Metropolitana. São José dos Pinhais, Piraquara e Fazenda Rio Grande seriam exemplos de cidades que poderiam comportar os novos loteamentos. Já houve algumas conversas entre os municípios para a criação de um consórcio intermunicipal, no qual a Prefeitura de Curitiba poderia ficar encarregada de fazer algumas benfeitorias, como a construção de escolas. Mas as negociações não avançaram. “Daqui a cinco anos não teremos mais espaço para loteamentos destinados à população de baixa renda”, prevê Rebelo.

Novas invasões

Querendo fugir do aluguel, as pessoas de baixa renda se viram como podem. Está para completar dois meses que cerca de 350 famílias invadiram uma área particular no Tatuquara. Apesar do mandado de reintegração de posse ter sido expedido logo depois da invasão, ele ainda não foi cumprido. “Já fizemos reunião com a Cohab, mas eles disseram que o lote era muito caro para comprar”, explica Rosi Aparecida Oliveira da Luz, que participa da ocupação.

Enquanto a situação não se resolve, os moradores vão incrementando as casas: deixam as lonas de lado e constroem casas de madeira. Alguns já têm luz elétrica proveniente de “gatos”. Hoje também estão na fila da Companhia Municipal de Habitação 34 mil pessoas de Curitiba, e outras seis mil da Região Metropolitana.

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