Curitiba branca de neve, há 27 anos

Há exatos 27 anos, na manhã de 17 de julho de 1975, Curitiba se cobriu de branco quando a neve caiu intensamente sobre a cidade, gerando uma paisagem que mais parecia a de uma cidade européia, a neve cobriu carros e telhados. Muita gente saiu às ruas para bater fotos, fazer guerra de bolas de neve e bonecos. Quem tem mais de 35 anos não se esquece da data.

O proprietário da livraria do Chaim, Aramis Chaim, que na época tinha 19 anos, conta que estava na casa dos avós, na Avenida Silva Jardim, quando a neve começou a cair. “Acordei e, como fazia todos os dias, fui dar comida para as galinhas. Notei que todas estavam encolhidas nos cantos e que o cachorro que ficava no quintal sequer se mexia. Estava muito frio”, lembra.

Em um primeiro momento, Chaim, que nunca tinha visto neve, confundiu-a com geada. Quando percebeu os flocos caindo, foi até a rua e notou que as pessoas estavam, ao mesmo tempo, deslumbradas e assustadas. “Alguns alemães, que moravam perto da casa de meus avós, começaram a falar sobre os problemas que a neve causava. Então, algumas pessoas começaram a ficar com medo que o telhado de suas casas não suportassem o peso do gelo.”

Na expectativa de registrar o acontecimento, Chaim decidiu que iria tirar algumas fotografias, porém não encontrou filmes fotográficos à venda nas lojas: em todos os locais, os filmes haviam acabado.

Telefonema

O escritor Jamil Snege, que em 1975 tinha 36 anos, foi acordado por um amigo, que telefonou avisando da neve. “Ele pediu para que eu me levantasse e olhasse pela janela”, conta. “Achei muito estranho, mas obedeci. Foi então que descobri o que estava acontecendo.”

Após verificar que estava nevando, Jamil trocou de roupas e saiu para buscar o filho, na época com oito de idade, na casa da mãe. “Encontramos paisagens belíssimas e muita gente brincando nas ruas”, declara. A principal recordação do escritor é de um rapaz negro, conhecido como Bataclan, que corria na Praça Santos Andrade, em meio à neve, sem camisa e de calção. Bataclan, já falecido, era um personagem bastante conhecido na cidade, que defendia a prática de esportes e a adoção de uma vida saudável. “Todo mundo ficou admirado de vê-lo correndo sem camisa naquele frio.”

Na maternidade

Já a dona-de-casa Regina Bonierski, que em 1975 tinha 28 anos de idade, viu a neve da janela da maternidade. No dia anterior, 16 de julho, ela tinha dado à luz a filha Adriana, primeira menina após seis filhos homens, e se recuperava de uma cesariana. Devido à cirurgia, Regina não conseguiu levantar-se para ir à rua ver a neve. Então, mesmo na cama, olhou pela janela e viu os flocos brancos, “que mais pareciam pedaços de algodão”, caindo do céu. “Até hoje, como minha filha é bem branquinha, costumo dizer que ela chegou junto com a neve.”

Mesmo sem poder se levantar, Regina teve a chance de tocar a neve. Seu marido, que chegava ao hospital para visitar a filha, entrou no quarto com o casaco repleto de flocos brancos. “Ele tirou o casaco e então pude tocar a neve que se encontrava nele. Foi muito emocionante.” A dona-de-casa também se recorda da bagunça dentro da maternidade. Segundo ela, as enfermeiras estavam bastante agitadas, correndo de um lado para o outro. Algumas ajudavam as pacientes que podiam se levantar, levando-as para ver o acontecimento.

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