Crise não poupa nem catadores de papel

Além do faturamento de grandes multinacionais, a crise na economia mundial afetou também atividades de subsistência de trabalhadores da base da pirâmide da cadeia produtiva. Segundo cooperativas e associações de catadores, a instabilidade gerada fez cair quase pela metade o número de pessoas atuantes nessa atividade em Curitiba.

Isso porque a queda na produção mundial fez cair a demanda de matéria-prima e, junto com ela, o preço pago pelos materiais recicláveis. Em cinco meses de crise, os catadores de papel relatam que só agora é que os preços estão voltando ao normal.

De acordo com o presidente da Cooperativa Catamare, Valdomiro Ferreira da Luz, a baixa margem de lucro na venda de recicláveis fez cair drasticamente o número de catadores de papel.

Luz, que também acumula o cargo de tesoureiro do Instituto Lixo e Cidadania, acredita que deveria haver atenção especial dos órgãos públicos para garantia dos empregos dos catadores, já que a estimativa é que no Paraná existam mais de 15 mil pessoas trabalhando com reciclagem. “Os catadores recolhem cerca de 90% do material gerado em Curitiba. Se essa gente parar, Curitiba pode ter problemas com a destinação de recicláveis.”

Segundo o presidente da Catamare, até o final do ano passado o número de catadores em Curitiba e região metropolitana era estimado entre oito e dez mil. No entanto, esse número pode ter caído pela metade em 2009. “A Catamare tinha 70 catadores. Hoje esse número não chega a 30”, diz.

A redução de catadores também é confirmada pela recicladora Joelma Marisa Borges, da Associação Reciclar, de Araucária. Segundo ela, os trabalhos da associação, que antes contava com dez catadores, estão restritos à separação do material internamente. “Catar papel não está mais sendo interessante. O pessoal está preferindo trabalhar como servente de pedreiro”, conta.

Queda

Para se ter uma ideia, o preço pago pelo quilo de garrafa pet caiu de R$ 1,50 para R$ 0,30 -mais de 80%. Já o preço do quilo de papel, que antes custava R$ 0,20, segundo Joelma, passou a custar R$ 0,03.

A catadora Marta de Lima afirma que a queda do preço pago pelos compradores refletiu diretamente na vida dela. Agora, dona Marta não chega a juntar R$ 100 por mês. “No mês passado eu tirei R$ 90”, afirma. Marta, porém, diz que já está sentindo uma melhora nos preços e espera que tudo volte a ser como antes da crise.