Crianças sofrem com a hiperatividade

Com certeza você já viu uma criança barulhenta, inquieta, que não pára no lugar. Já criticou os pais dela, dizendo que eles não dão educação e coisas do gênero. Mas nem sempre esse raciocínio é correto. Um distúrbio neurobiológico conhecido como Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) atinge entre 3% e 5% de todas as crianças em idade escolar. Entre os sintomas que mais chamam a atenção estão a dificuldade em sustentar a atenção ou focalizar numa tarefa por muito tempo, extrema agitação e mudança constante de atividade. São crianças que se intrometem em conversas e atividades dos outros, e têm muita impulsividade.

O neuropediatra do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sérgio Antoniuk, explica que a hiperatividade nas crianças nem sempre significa a existência da TDAH. Por isso, é importante que os pais procurem profissionais especializados para detectarem o problema específico. “Podem ser também problemas emocionais, má criação, excesso de liberdade, falta de organização na vida familiar. Enfim uma série de fatores que levam à hiperatividade”, explicou o especialista, destacando que para comprovar o problema é necessário que os sintomas apareçam por mais de seis meses na criança. “O ideal é que problema seja detectado o quanto antes possível. Mas na maioria das vezes os pais só descobrem a partir dos sete anos”, contou.

Antoniuk destacou em criança, o portador de TDAH tem problemas na escola, na convivência com os colegas etc. Já na adolescência pode desenvolver uma hiperatividade mental e ter tendência a procurar drogas. Na fase adulta não consegue se estabilizar no emprego, nem numa relação amorosa. “Além da hiperatividade, há também casos em que o problema é falta de atenção. A criança não consegue se concentrar em algumas atividades e acaba prejudicando todo seu relacionamento com a sociedade”, explicou Antoniuk.

As causas da TDAH ainda não são totalmente conhecidas , mas há teorias que apontam o cunho genético. “Há casos em que existem registros anteriores na família. Mas há outros em que ninguém nunca teve TDAH e a criança tem o problema. Portanto, não é possível afirmar que é um problema genético”, salientou Antoniuk.

Tratamento

O neuropediatra explicou que o tratamento engloba a parte psicológica, que envolve o tratamento da criança além de esclarecimentos à família, escola e sociedade. O uso de medicamentos também é indicado. “Normalmente utiliza-se remédios que estimulem o aumento da dopamina no organismo. Ela faz com que aumente a concentração do paciente”, explicou Antoniuk, destacando que o tratamento a base de remédios causa efeitos colaterais em 5% dos casos.

Avó comemora avanços que o neto já conquistou

Lawrence Manoel

Aide Marisa Gonçalves dos Santos é avó de um portador da TDAH. Ela contou que o diagnóstico em seu neto foi muito difícil e só aos 12 anos ficou comprovado o que ele tinha. “Foram cinco psicólogos e dois neuropediatras até descobrirem o que meu neto tinha”, lembrou, destacando que o caso de seu neto não era de hiperatividade e muito mais de déficit de atenção. “Ele não é agitado e sim impulsivo. Seu problema maior era na escola, onde não conseguia render”, contou a avó.

Numa das passagens causadas pelo problema, Aide contou que seu neto chegou a dar um soco num colega de classe. “Um colega bateu nas costas dele. Sem pensar duas vezes deu um soco como resposta, sem mesmo ver se era ou não brincadeira. Crianças com esse problema não freiam e nem filtram o pensamento”, comentou Aide, dizendo que depois do menino descobrir o problema e passar a tomar medicamentos, melhorou bastante. “As notas dele melhoraram quando se compreendeu o que realmente ele tinha. Ele mesmo diz que fica feliz quando a professora de Português o elogia”, afirmou, destacando que portadores do TDAH normalmente têm a auto-estima muito baixa.

Associação presta apoio às famílias

Lawrence Manoel

As famílias que possuem parentes portadores de TDAH já têm um local onde podem conseguir apoio. Criada há pouco mais de um ano, a Associação de Apoio ao Portador de Défict de Atenção/Hiperatividade (APDAH) realiza um trabalho de conscientização da sociedade sobre as dificuldades que essas crianças têm, e como as pessoas devem agir para minimizá-los.

A presidente da associação, Mércia Diniz, explicou que a APDAH tem um conselho científico que orienta a associação-basicamente formada por pais e parentes de portadores-, na abordagem que o material de divulgação e as ações da associação devem ter. “As famílias de portadores sofrem muito sem saber o que fazer. Daí o surgimento da associação, para as orientar e encaminhar ao tratamento correto. Outra função nossa é esclarecer a situação para a sociedade de uma maneira geral. Para que nosso filhos não sejam tratados com tanto preconceito”, ressaltou Mércia. Ela destacou que a criança portadora de TDAH muitas vezes tem a auto-estima muitíssimo reduzida. “Existem casos de crianças que tentam se suicidar”, contou. “A criança tem o problema, chega na escola a professora não entende e briga com ela. Vai para casa, os pais também não entendem, também brigam. Essa rotina é massacrante, deixa o amor próprio da criança lá em baixo”, explicou Mércia.

Ela destacou que existem dois componentes que forma a TDAH. “Há crianças que são desatentas, desligadas, que se costuma chamar no mundo da Lua. Têm aquelas que não param na cadeira, não sossegam, essas são hiperativas. Há também aquelas que têm os dois tipos de comportamento, que tornam a doença num problema mais difícil”, salientou Mércia, destacando que o importante é que os pais saibam que o problema existe, mas é tratável.

O filho de Mércia, de 13 anos, tem o problema, mas foi diagnosticado muito cedo. “Hoje ele leva uma vida praticamente normal. Ele mesmo já sabe o que deve fazer quando o problema aparece. Por isso é importante destacar que quanto mais cedo o problema for diagnosticado, melhor”, afirmou Mércia.

Serviço

A APDAH realiza reuniões todas as terceiras quartas-feiras de cada mês. Exceto nos meses de janeiro e julho. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (41) 9605-7989 ou pelo e-mail merciadiniz@terra.com.br

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