Continua impasse sobre “O Canto dos Malditos”

Não houve conciliação na audiência realizada ontem entre o advogado de Autregésilo Carrano, autor do livro O  Canto dos Malditos, o advogado da Editora Rocco, que publicou a obra, e o advogado da família do psiquiatra Alô Guimarães Ticoulat, diretor do hospital psiquiátrico onde Carrano esteve internado. A família exige que em futuras edições da obra sejam retirados trechos que consideram uma ofensa à memória do psiquiatra e que seja indenizada por danos morais.
A audiência de conciliação foi presidida pelo juiz titular da 8.º Vara Cívil de Curitiba, José Roberto Pinto Júnior. Segundo o advogado de Carrano, Carlos Bernardo Albuquerque, não se chegou a um consenso devido à exigência de indenização. Ele diz que Carrano mostra-se ?até favorável? a tirar alguns trechos da obra. Albuquerque conta que Carrano está em São Paulo e que na segunda-feira retorna a Curitiba. Eles vão discutir se concordam com a retirada das partes que a família considerou ofensivas e sobre a ação indenizatória.
Apreensão
Em 30 de abril saiu um acórdão, em que os juízes do Tribunal de Justiça do Paraná, da 1.º Câmara Cível, em conseqüência de ação da família, decidiram tirar das livrarias a obra de Carrano, mesmo antes do final do processo. De acordo com Albuquerque, O Canto dos Malditos está na nona edição e a tiragem esgotada. Antes do decisão final do juiz, eles ainda podem chegar a um acordo.
O livro de Carrano foi lançado em 1990. Nele conta sua vivência dentro de instituições psiquiátricas. Experiência que deixou seqüelas, como uma fissura na base craniana, perda de dentes e queima parcial da visão, resultado de 21 aplicações de eletrochoque e da ingestão de medicamentos. Carrano foi internado porque foi pego usando drogas. Ele passou três anos e cinco meses nesses hospitais.
O Canto… também inspirou o filme Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky, com Rodrigo Santoro interpretando o papel principal. A obra ganhou 36 prêmios no Brasil e oito no exterior. Desde a publicação do livro, Carrano se integrou ao Movimento da Luta Antimanicomial. Ele profere palestras em todo o País, onde prega a necessidade de se criar outras alternativas de tratamento, como os Centros e Núcleos de Atenção Psicossocial. (CAPs e NAPs).

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