Clínica fecha leitos para dependentes químicos

O encerramento de um convênio da Prefeitura de Curitiba com a Clínica Heidelberg, para tratamento de adolescentes dependentes químicos, prova a dificuldade enfrentada por diversos municípios em obter leitos para internamento desse tipo de paciente psiquiátrico. Em outubro, a clínica fechou a ala que oferecia internação de curta duração, recomendada para desintoxicação e tratamento de síndrome de abstinência, alegando baixa remuneração por parte do Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar da lacuna deixada, pois os leitos eram os únicos conveniados para atender este público, a Prefeitura garante que os tratamentos ambulatoriais e as equipes das unidades de saúde 24 horas têm dado conta da demanda.

A diretora administrativa da clínica, Karin Ratzke, afirma que a remuneração repassada pelo SUS era insuficiente frente às despesas com as quais tinha de arcar. ?Era um valor pequeno para o tipo de clientela, a maior parte menores de rua que usam drogas e precisavam passar pela desintoxicação. São pacientes difíceis, que em geral quebram muitas coisas e ocasionam alguns prejuízos, os quais não estavam sendo compensados pelo que recebíamos?. A ala desativada comportava cinco pacientes internados e 25 em regime hospital-dia.

A clínica era a alternativa da Prefeitura quando seus médicos psiquiatras recomendavam o internamento – prescrição que vinha acompanhada de atendimento ambulatorial (fornecido por meio do Programa Cara Limpa, mantido pelo município especialmente para este público), e atividades junto ao Centro de Atenção Psicossocial (Capes). No entanto, manter o adolescente dia e noite dentro de uma clínica especializada muitas vezes é necessário no processo de recuperação, acredita o secretário do colegiado de presidentes dos Conselhos Tutelares de Curitiba, Anderson da Costa Oliveira. ?Quando os adolescentes voltam para casa, os pais sentem dificuldades em algumas questões, como a agressividade ou as tentativas em conduzir o adolescente até o hospital?, afirma.

A opinião é compartilhada pela presidente do Conselho Tutelar do Bairro Novo, Silvana Aparecida Bernardino de Morais. Para ela, somente o atendimento prestado durante o dia não seria suficiente para o tratamento. ?Eles voltam para casa e de novo têm contato com os fornecedores de drogas. A dependência química é uma doença e precisa de tratamento especial?, acredita.

Saúde

A superintendente de gestão da Secretaria Municipal de Saúde, Eliane Chomapas, garante que a suspensão do convênio não tem prejudicado o tratamento dos adolescentes, mas confirma as dificuldades na obtenção de leitos destinados a essa demanda. ?Para resolver especificamente a questão de álcool e drogas, fizemos licitação dando incentivo de qualidade e complementando com recursos próprios até o dobro da tabela do SUS, mas nenhum prestador participou da concorrência?, afirma.

Segundo ela, no que concerne à manutenção de doentes psiquiátricos, a relação entre o SUS e os hospitais é cada vez mais difícil, uma vez que o Ministério da Saúde tem diminuído as verbas nesse sentido para desestimular os internamentos e incentivar os tratamentos ambulatoriais.

Mesmo assim, Eliane afirma que os atendimentos prestados pelo Capes Centro Vida – destinado especialmente a crianças e adolescentes dependentes de álcool e drogas – e pela rede ambulatorial têm se mostrado eficientes, bem como as atividades desenvolvidas para reinserção social e tratamento da família. ?O internamento é a última opção; todos os esforços são primeiramente concentrados na rede aberta?, explica.

Segundo a supervisora, é erro pensar que o adolescente necessariamente tem de ficar internado, uma vez que é a vontade dele fator determinante para a recuperação. ?Mas se o psiquiatra mandar, temos de dar conta. E por enquanto estamos conseguindo isso utilizando as unidades 24h?.

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