Capela N. Senhora das Mercês está abandonada

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A Capela Nossa Senhora das Mercês, abandonada e com muito mato ao redor…

"A memória é filha do presente. Mas como seu objeto é a mudança, se lhe faltar o referencial do passado, o presente permanece incompreensível e o futuro escapa a qualquer projeto". (Menezes, 1992).

"A memória não vive se o seu suporte material for destruído, se sua forma concreta de ser evocada no presente, não mais existir. Se os objetos que nos ligam ao passado e articulam a nossa permanência no mundo, como continuadores de uma tradição, desaparecem ou se tornam objetos de simples consumo, a própria cultura também desaparecerá". (Arruda, 1999).

Tive a oportunidade de conviver com os Mbya-Guaranis, na Ilha da Cotinga, em Paranaguá, durante 23 dias. Foi um aprendizado ininterrupto e gratificante. Por intermédio da observação e do diálogo, constatei a naturalidade, a simplicidade e a sabedoria que aquela sociedade possui. Estes detalhes serão narrados oportunamente por Zélia Maria Bonamigo (minha esposa), jornalista e mestranda em Antropologia, que vem estudando, há dois anos, a relação econômica entre os índios e os não-índios. Mas, entre tantas experiências positivas, uma me chateou.

Os primeiros sinais da História do Paraná estão na Ilha da Cotinga. Eu sempre quis conhecer a Capela Nossa Senhora das Mercês, popularmente conhecida como Igreja da Cotinga. Conversei com os índios sobre ela. Valdinês se propôs a mostrar. Embora haja um caminho de melhor acesso, resolvemos fazer o percurso por dentro da mata. Demoramos aproximadamente 40 minutos até alcançarmos a escadaria, que possui 365 degraus e que se perde na quiçaça. Quando lá chegamos, verificamos uma capela abandonada: sem teto, sem janelas, sem porta, descolorida e com muito mato ao redor.

Impressionante! Aquela capela, segundo relatos de alguns pesquisadores, foi erguida em 1677 por Manoel de Lemos Conde (provedor das Minas de Paranaguá), aniquilada em 1699, para levantar a Igreja de São Benedito.

Foi solicitada a reconstrução da igrejinha, em 1955, fato consolidado somente aos 25 de abril de 1993. Está sem memória na história do Paraná.

Fui informado de que havia um projeto de recuperação da igreja. Pesquisei e verifiquei que é de 2003, ora estamos em 2005. É hora de arregaçar as mangas e trabalhar. Autoridades políticas, sociedades culturais e comunidade devem se integrar e resgatar esse patrimônio cultural que logo estará em ruínas se nada for feito.

Sugestão: a Capela Nossa Senhora das Mercês, uma vez recuperada, além de se converter em resgate histórico, poderá ser aproveitada, talvez, pelos Mbya-Guaranis para apresentar sua cultura, por intermédio dos trabalhos artesanais e das danças.

Jorge Antonio de Queiroz e Silva é historiador, professor, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná queirozhistoria@terra.com.br

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