Brinquedos antigos sobrevivem à tecnologia

Telefone celular, computador, jogos eletrônicos de última geração. Nos últimos anos, a tecnologia vem dominando os desejos de crianças de todo o mundo e, apesar dos altos preços, o volume de compra desses brinquedos é enorme. Mas o resgate das antigas brincadeiras está novamente ganhando espaço. Principalmente nessa época, na véspera do Dia das Crianças, com simplicidade e criatividade, os brinquedos que em princípio não chamam a atenção da criançada acabam caindo no gosto dos pequenos curiosos.

Um bom exemplo desse resgate é o crescimento do mercado de bonecos de pano em Curitiba e Região. O trabalho desenvolvido pela artesã Vera Lúcia Buzato é reconhecido nas feiras de artesanato e já ocupa uma fatia do comércio das lojas de brinquedos. Ela faz bonecos há três anos, depois de ter participado de um curso de corte e costura. Segundo ela, nessa época do ano, as vendas aumentam em grande proporção. Vera conta que o interesse pelo ramo vem desde quando ela era nova. Antes de desenvolver o negócio, ela trabalhava com vendas, mas admite que a paixão pelos bonecos foi maior. “É um produto diferenciado e que chama a atenção. Tem qualidade e sempre fez parte de rodas de brincadeira. Acredito que esses bonecos nunca foram deixados de lado, só que perderam um pouco de espaço para as novas tecnologias”, considera.

Dois bonecos maiores servem de modelos de roupas infantis em lojas do ramo. Outro destaque da produção de Vera Lúcia são os mascotes dos clubes da capital. Um casal de bonecos atleticano e outro coxa-branca têm conquistado os pequenos torcedores. Ela conta que muitas vezes até os adultos se interessam por essa novidade. Para desenvolver os bonecos dos clubes, a artesã explica que todos os modelos tiveram que ser aprovados pelos designers dos dois times, e também contam com os escudos oficiais. “A saída desse produto tem sido enorme. É uma opção original e que desperta o interesse das crianças. Pode ser um brinquedo simples, mas que agrada”, comenta.

Em outras datas comemorativas, a procura pelos bonecos também é grande. Vera conta que no Natal, e até mesmo nos dias dos pais e das mães várias unidades são vendidas. “A criança gosta do presente, acha interessante e procura mais tarde, para presentear outras pessoas”, conta. Além da utilidade como brinquedo, a linha de bonecos Babi, nome criado pela artesã, também funciona como parte da decoração de um quarto. Muitas crianças fazem coleção dos bonecos de pano: “Sempre que sai um novo, a procura normalmente cresce. A tendência é de que esse mercado nunca saia de moda”, completa Vera Lúcia. Ela faz parte da Associação dos Núcleos Artesanais de Vizinhança, entidade que conta com vários artesãos.

Brincadeiras ajudam na recuperação

Os brinquedos também fazem parte da recuperação de pequenos pacientes do Hospital Pequeno Príncipe. Há um ano está em funcionamento na instituição a Brinquedoteka. É um espaço dedicado às crianças, onde além da integração entre todos os pacientes, o estímulo dos jogos e das brincadeiras educativas colaboram para uma recuperação mais rápida. Os pais e outros familiares também participam.

De acordo com a psicóloga e coordenadora do setor de voluntariado do hospital, Rita de Cássia Lous, o atendimento na Brinquedoteka é feito nos períodos da manhã e tarde. “Todos os brinquedos foram escolhidos a dedo, tanto pelo lado educacional quanto pela criatividade. Isso ajuda muito na recuperação”, garante.

Rita destaca que o brinquedo tem se tornado um instrumento pedagógico essencial. Eventos culturais também são realizados com o uso de brincadeiras, para estimular a recuperação das crianças, e contadores de história também participam dessas ações.

Na última semana também foi comemorada a Semana da Criança no hospital. Além da distribuição de brinquedos e doces, houve apresentação de mágicos e palhaços e outras atrações para as crianças: “Algumas visitas desses voluntários são semanais, mas por causa do Dia das Crianças, uma programação especial foi desenvolvida nessa semana. Esse trabalho em conjunto com as brincadeiras educativas vem sendo eficiente há bastante tempo”, conclui a psicóloga.

Mobilização

Uma atividade criativa também vem sendo desenvolvida pela Fundação O Boticário, em Curitiba. Na Estação Natureza, localizada no Shopping Estação, no centro da capital, as crianças vão participar da fabricação de brinquedos a partir de materiais recicláveis. A iniciativa foi adotada em 2001 e, aproveitando o Dia das Crianças, nessa semana, a entidade promove a partir do dia 14 uma série de atividades no local.

De acordo com a educadora ambiental Haydee Facci, a participação de escolas públicas e particulares tem mostrado o interesse das crianças pelo meio ambiente: “Eles procuram a Estação e participam das atividades. Depois de confeccionado, o brinquedo é levado embora e aproveitado. É importante para criar uma ligação entre o meio ambiente e as crianças através da proteção e da reciclagem”. (RCJ)

Pais podem ajudar despertar a curiosidade

Para a psicóloga infantil Cleide Bozmaboni, mesmo com a constante inovação tecnológica, os antigos brinquedos de madeira e os jogos mais simples vão continuar fazendo parte do crescimento da criança. Em grande parte, destaca ela, a participação dos pais nesses tipos de brincadeira serve como referencial para que os pequenos não percam o contato com a criatividade. “Nós verificamos que a moda tecnológica está presente, e isso realiza os sonhos deles, é o consumismo direto. A cada seis meses, troca de celular, ou o PlayStation 2 (videogame de última geração) é que é o diferencial”, diz a psicóloga.

Mas as brincadeiras tradicionais e os brinquedos mais simples também estão voltando a aparecer. Ela destaca que durante as consultas com as crianças, é possível perceber a curiosidade que despertam: “Eles gostam dessa novidade. Apesar de não terem tido tanto contato com as brincadeiras simples, se interessam e isso serve de estímulo”.

Cleide trabalha em Curitiba há 22 anos, e conta que em seu consultório, decorado com brinquedos de madeira e de plástico, montou uma pequena casa, onde os pequenos pacientes se sentem confortáveis durante a consulta: “O importante é a qualidade da brincadeira. A tecnologia não vai deixar de existir, mas ficar parado em frente à televisão ou ao computador não pode ser mais interessante do que participar de brincadeiras criativas com outras crianças”, finaliza. (RCJ)

Escolha do presente requer alguns cuidados

Na hora de escolher um brinquedo é preciso ficar atento não somente ao preço, mas à qualidade, certificação e faixa etária indicada. Esse é o conselho da Organização Não Governamental (ONG) Criança Segura, que atua exclusivamente na prevenção de acidentes (lesões não intencionais), com crianças de até 14 anos. A entidade atua em Curitiba, Londrina, São Paulo e Recife desde 2001.

Com a proximidade do Dia das Crianças, a venda de brinquedos cresce e os pais devem ficar atentos com os presentes que vão comprar. Uma supervisão rigorosa com os itens de segurança é essencial, de acordo com a coordenadora da ONG em Curitiba, Alessandra Françoia. “Os cuidados devem ser tomados para evitar futuros acidentes. E são observações básicas, que garantem uma brincadeira saudável e sem problemas para as crianças”, ressalta.

É importante que todos os brinquedos comercializados possuam um selo do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). O brinquedo é um produto de certificação obrigatória desde 1992. Os produtos internacionais também devem conter a indicação do distribuidor e o selo de certificação. Os pais devem estar atentos aos brinquedos que soltam peças, quebram facilmente ou ainda possuam material tóxico em sua composição. Isso pode comprometer a saúde da criança. “É necessária essa verificação e o respeito à todas as normas. Um brinquedo de qualidade deve atender esses itens”, destaca Alessandra.

Atividades físicas

De acordo com a ONG também é necessária uma verificação adequada nos brinquedos em que as crianças terão uma atividade física. É o caso de bicicletas, patins, skates ou patinetes. Nesses casos, o importante é sempre equipar a criança com capacete, joelheira e cotoveleira. “Todo o material tem de ser levado em conta, pois a prevenção é essencial”, observa.

Alguns descuidos podem causar graves acidentes. No último levantamento realizado pelo Ministério da Saúde (MS), em 2001, sobre acidentes, cerca de sete mil crianças e adolescentes foram vítimas de acidentes com bicicleta, sufocações, engasgamentos, envenenamentos. “A atenção é a principal aliada. Sem dúvida isso faz a diferença”, afirma a coordenadora regional da ONG. (RCJ)

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