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Ano após ano os problemas do litoral paranaense continuam os mesmos

Quem frequenta as praias do Paraná enfrenta um velho problema a cada feriadão ou temporada de verão. A estrutura precária das estradas que dão acesso ao litoral faz turistas e moradores encararem o risco de ficar mais tempo dentro do carro do que na beira do mar. Ideias e projetos para resolver o assunto não faltam, mas há décadas ninguém vê qualquer solução sair do papel.

Nos últimos dias, o debate sobre o tema esquentou novamente. O governo do Estado anunciou a contratação de um estudo de viabilidade para a construção da BR-101 no Paraná. Enquanto isso, um relatório do Ministério Público apontou risco de acidentes no ferryboat, dando mais força ao movimento que pede uma ponte sobre a Baía de Guaratuba.

O Paraná Online desceu a Serra do Mar, ouviu veranistas, moradores, comerciantes e verificou: o assunto está na boca de todos, de Guaratuba a Pontal do Paraná. Entre muitas polêmicas e pontos de vistas, só há uma certeza: alguma coisa precisa ser feita para que o litoral se desenvolva e a população local e os visitantes não sofram com horas e horas de filas e congestionamento.

Marcos Borges
Alício e Izabel: deve ter alguém ganhando muito dinheiro.

O casal Alício e Izabel Zilli, que há seis anos troca Londrina por Matinhos durante o verão, conhece bem o drama. “No ano passado, pegamos uma fila de duas horas e meia no ferryboat. A gente fica pensando qual é o problema para a construção de uma ponte, porque melhoraria para todo mundo. Deve ter alguém ganhando muito dinheiro com isso”, desconfia Izabel.

A briga por uma nova ligação entre Matinhos e Guaratuba tem apoio de diversas entidades e políticos, comunidades na internet e já foi motivo de protestos. Mas tem gente que é contra a ideia, como o representante comercial Alessandro Moreira, de Londrina. “Uma ponte vai tirar todo o encantamento do lugar. O ferryboat é um atrativo a mais e os turistas gostam”, acredita.

Mas quem mora no litoral, como o caminhoneiro Ireno Sales, sabe que o ferryboat está longe de ser o único problema de transporte na região. “A rodovia entre Garuva (SC) e Guaratuba (SC-415 e PR-412) é um caos. Não comporta mais o fluxo dos veículos que vêm pra cá. Precisa de uma duplicação ou de uma nova estrada”, avalia.

Marcos Borges
Márcia: quatro horas na estrada.

Circular pela PR-412 é um desafio também para quem frequenta os balneários de Matinhos e Pontal do Paraná. A pista estreita e sem acostamento em muitos pontos é garantia de longos engarrafamentos sempre que o movimento aumenta. “Todo final de semana com tempo bom é complicado. Já fiquei quatro horas na estrada, debaixo de sol e com o carro fervendo. Se fizessem a ponte em Guaratuba ia melhorar um pouco. O pessoal não vem por lá por causa do ferry”, diz a comerciante Márcia Matos, que há mais de 20 anos passa os verões no balneário de Saint Etienne.

Já o vigilante Marcos Padilha, que mora em Araucária e curte os feriados em Santa Terezinha, aponta um beco sem saída. “Não tem espaço para a duplicação e novas estradas têm um impacto ambiental muito grande, principalmente nesta região da Serra do Mar. Muita gente deixa de vir para o litoral por causa dos congestionamentos, mas vai ser difícil resolver esse problema”.

Ponte atrairia mais turistas

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Marcos Borges
Ireno: caos entre Garuva e Guaratuba.

Quem frequenta a Praia Central de Guaratuba certamente já passou pela banca do seu Antônio Ferreira. Há 15 anos ele refresca quem toma um sol por ali com muita água de coco e uma boa dose de simpatia. É tão identificado com o lugar que se tornou conhecido na cidade como Ferreirinha da Praia.

Entre um coco e outro, ele adora bater papo com os fregueses sobre os assuntos da cidade. “Aqui todo mundo me conhece e eu sei da vida de quase todo mundo”, conta. Mas não é de fofoca que seu Ferrerinha gosta. É a política local e os projetos para o litoral que o empolgam. “Há alguns anos, fizeram um crime contra Guaratuba, quando tiraram os quiosques da praia. Mais de 250 pessoas perderam o emprego. Como tenho só uma mesa e um guarda-sol, não precisei sair. Mas foi triste ver amigos perdendo seu negócio”, diz.

Seu Ferreirinha nasceu no Mato Grosso do Sul, há 73 anos. “Vim da fazenda. Era boiadeiro, laçador, berranteiro, domador…”, revela. Perguntado sobre o motivo que o trouxe ao Paraná, ele desconversa e prefere não revelar. Mas não economiza conversa sobre os defeitos e qualidades de Guaratuba. “Em todos estes anos que estou aqui, não tem nenhum assunto mais falado que essa ponte pra Matinhos. Seria muito bom e traria mais turistas, mas eu já não acredito mais. Vai ser uma surpresa se eu ver ela pronta antes de morrer”, afirma.

Mesmo reclamando do trânsito, dos políticos e “dessa gurizada de hoje em dia que só vem pra praia pra fazer barulho”, ele garante: “estão cuidando muito bem da cidade. Nesses anos todos, nunca vi a praia tão limpa e bonita”.

Marcos Borges
Antônio: não tem assunto mais falado que essa ponte.