Para o Francisco da Gazeta do Povo

(Como nas vezes anteriores os meus protestos não foram publicados integralmente na Gazeta do Povo, tomo a providência de colocar este texto na internet e de publicá-lo em outros jornais)

Curitiba, 4 de dezembro de 2003.

Senhor Francisco,

Em recente encontro, o senhor me afirmou que o seu jornal era um veículo de comunicação ético, responsável, isento e a favor das causas paranaenses. A edição de hoje da “Gazeta do Povo” não reflete isso.

A reportagem sobre a redução das tarifas do pedágio no trecho sob concessão da “Caminhos do Paraná” procura, o tempo todo, desqualificar o acordo e assume os números e o ponto de vista das concessionárias.

A reportagem fala na suspensão de “investimentos” na ordem de R$ 613 milhões, até o ano de 2021. Diz ainda que, caso sejam feitos acordos de redução de tarifas com as outras cinco concessionárias, elas deixariam de “investir” R$ 3,3 bilhões, até o fim dos contratos em 2021. E que elas já “investiram” R$ 1,2 bilhão.

Senhor Francisco, esses números foram distribuídos ao longo da matéria como se fossem verdades definitivas, inquestionáveis e, sobre eles, em nenhum momento a reportagem ouviu a opinião do Governo.

Já na campanha eleitoral, e mesmo antes dela, sempre contestei, sempre denunciei, sempre duvidei de tais números. E, agora no Governo, de posse de informações mais detalhadas, especialmente depois da auditoria feita nas concessões, revigorei o meu ponto de vista de que tais números não passavam de ficção.

Nunca aceitei tais números. Jamais poderia aceitá-los. Qualquer pessoa, diante das manipulações promovidas pelas concessionárias, também os recusaria. Como confiar – sempre perguntei – em tais números, se as obras feitas pelas concessionárias foram realizadas sem concorrência pública, sem fiscalização, muitas vezes por empreiteiras das próprias concessionárias?

No entanto, nada disso foi contemplado na reportagem da “Gazeta do Povo”. Nem meia linha para dizer que o Governo não aceitava os números das concessionárias. Ainda assim, diante disso e apesar disso, a “Gazeta” afirma que acontecerá suspensão de “investimentos”. Como se fosse possível suspender o que verdadeiramente nunca aconteceu.

Os aumentos religiosamente anuais das tarifas de pedágio, essa a única realidade. Onde as duplicações? Onde as pontes e viadutos? Onde isso e aquilo? Onde os investimentos, senhor Francisco?

O senhor é um homem de negócios, um empresário, entende de números. Se se fala em investimentos de R$ 613 milhões, de R$ 3,3 bilhões, de R$ 1,2 bilhão, com toda certeza isso, para o senhor, deve ser traduzido em resultados concretos, palpáveis, verdadeiros, reais. Pois bem, aonde estão tais resultados? Como seu jornal pode desfilar todos esses números e não tirar a prova dos nove? Como seu jornal pode aceitar isso sem uma investigação?

Pior ainda, a reportagem chega a fazer uma projeção absurda, despropositada, tomando como referência o que o Governo do Estado vai investir no ano que vem nas estradas do Paraná. E chega a dizer que, com base nos números do orçamento, seriam necessários pelo menos 30 anos para compensar os investimentos que seriam feitos pelas concessionárias.

Veja senhor Francisco a que ponto chega o delírio. Em cima da ficção dos investimentos das concessionárias, que não aconteceram, produz-se outra ficção.

Não haverá e não pode ter havido a suspensão de investimentos que não aconteceram. Sob o pretexto de tais investimentos as concessionárias vinham (e vêm) cobrando uma tarifa extorsiva, que a economia paranaense não suporta. E que o senhor, e que seus veículos de comunicação, que dizem defender os interesses dos paranaenses, deveriam denunciar. O que estamos fazendo é acabar com a farsa, é tirar a justificativa das concessionárias para manutenção das tarifas tão altas.

Na verdade, senhor Francisco, vejo semelhança entre isso e o recente episódio das tais liminares que garantiriam o aumento do pedágio no dia 1 de dezembro. O tempo todo, meus secretários e eu, afirmávamos que não existia tal liminar. Mas isso não bastou. Seu jornal, sua TV, insistiam na existência do documento. E nós a dizer que não havia. Precisou que o procurador geral do Estado, Sérgio Botto, fizesse uma advertência pública e ao vivo para que a sua TV deixasse de falar na liminar inexistente.

Aliás, hoje, na página cinco do seu jornal, a Justiça Federal esclarece em definitivo o assunto, para constrangimento do senhor e de seus veículos de comunicação.

Concluindo, não poderia deixar de fazer mais um registro. Na página 12 do seu jornal dá-se um grande destaque a uma outra farsa, a tentativa municipal de reabrir os bingos. O senhor sabe, seus redatores certamente sabem, que não é de competência municipal a reabertura dos bingos que mandei fechar. Ainda assim o seu jornal trata do assunto, como sempre sem ouvir o Governo, como se tratasse de uma notícia séria.

Senhor Francisco, são as observações que gostaria de fazer. Afinal, o senhor me garantiu que o seu jornal é sério, ético, responsável e profundamente identificado com os interesses da nossa gente.

Atenciosamente,

Roberto Requião
Governador do Paraná

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