Papo careta

Nenhum desapreço pelos especialistas, mas hoje em dia, em matéria de análise política, é preciso dar mais ouvidos aos generalistas. Estes dizem que a nossa política é ruim e caminha para péssima, seja para o eleitorado jovem como para o adulto ou idoso. E que muitos eleitores são como os adúlteros, aceitando comportamentos pouco recomendáveis dos seus eleitos e com eles traindo os interesses gerais da nação. Damos de cara agora com mais uma dessas especialidades. Analistas se debruçaram sobre os planos de governo dos presidenciáveis e suas propagandas. Concluíram que eles não conseguem atingir os eleitores jovens. Para os portadores de títulos de eleitor de 16 e 17 anos de idade, para quem o voto é um direito, não um dever, o que dizem e escrevem os candidatos é papo furado.

O número desses eleitores facultativos cresceu nada menos de 39,3% nos últimos quatro anos. O Tribunal Superior Eleitoral revela que 3,089 milhões de eleitores jovens vão enfrentar as urnas pela primeira vez neste ano, o que representa ou representaria 2,45% do total do eleitorado brasileiro, que é de 125,913 milhões. Uma conclusão otimista, se não uma ficção, pois é certo que um bom número, senão a maioria dessa moçada, vai jogar os títulos no fundo das gavetas e nem sair da ?balada? para votar, já que os candidatos nada dizem que lhes interesse.

A despeito do crescimento desse contingente de eleitores já púberes, os pronunciamentos, programas e discursos dos candidatos não passam de ?cartas de intenções?, dizem os especialistas.

Os programas apresentados para a juventude não são palpáveis e imediatos. Os moços o que querem é independência financeira. Querem empregos. É tão fácil descobrir isso, mas os candidatos, por não terem a fórmula, apenas o discurso, pensam que os estão enganando com promessas vazias e demagogia barata. Os planos de governo falam em criar empregos. Mas o fazem como se isso pudesse acontecer por milagre ou pela simples vontade de pescar cardumes de votos jovens. Que no Brasil faltam empregos para os moços não é nenhuma novidade. Aliás, faltam também para os adultos. Os primeiros são desempregados de nascença. Os demais já trabalharam, mesmo que em empregos precários ou subempregos. Hoje, não poucos estão no olho da rua e esperam que algum candidato faça mais do que prometer-lhes milhões de vagas. Que demonstre como irá criá-las.

?Os candidatos não conseguem contentar esse público. Por isso, há a tendência de anular o voto ou recorrer ao voto de protesto. Não existe uma proposta real de emprego e esse assunto não tem sido mais tratado no plano de governo?, disse Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos. O desemprego crônico dos outros dá emprego a esse consultor. Senão, ele seria mais um.

Gaudêncio Torquato, professor titular da USP e colaborador semanal de O Estado do Paraná, chama de ?inconsistentes? os planos dos candidatos à Presidência da República voltados para os jovens. É um analista condescendente, pois inconsistentes parecem ser também os demais planos, mesmo que não tenham como vítima a juventude. Os candidatos esquecem-se que, quando se dirigem aos jovens, estão falando com gente ainda virgem em matéria de política. Eleitores que não são obrigados a votar e não votarão depois de ouvir conversa fiada. Ou demonstram claramente o que vão fazer e cumprem, ou vão ter um batalhão de revoltados caras-pintadas pela frente.

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