Papa critica volta de governos autoritários à América Latina

Durante o pronunciamento de abertura da sessão inaugural da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Aparecida (SP), o papa Bento XVI mostrou apreensão com o retorno dos regimes autoritários nos países da América Latina, numa referência ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Segundo ele, embora tenham evoluído em direção à democracia, é preocupante que alguns países estejam sujeitos a ideologias que se acreditavam superadas e que não correspondem à visão cristã do homem e da sociedade.

"Na América Latina e no Caribe, da mesma forma que em outras regiões, houve avanço em direção à democracia, ainda que haja motivos de preocupação diante de formas de governo autoritárias ou sujeitas a certas ideologias que se acreditavam superadas e que não correspondem à visão cristã do homem e da sociedade, como ensina a doutrina social da Igreja", declarou. O papa reconheceu, entretanto, que a globalização comporta o risco da formação de grandes monopólios cujo valor supremo é a obtenção do lucro. "Como em todos os campos da atividade humana, a globalização também deve se reger pela ética, colocando tudo a serviço da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus", disse o pontífice.

Bento XVI ressaltou que os latino-americanos têm direito a uma vida plena, própria dos filhos de Deus, com condições mais humanas, livre de ameaças como a fome e todo o tipo de violência. Ele convocou os bispos a pensarem de que forma a Igreja deve contribuir para solucionar os problemas sociais e políticos e responder ao desafio da pobreza e da miséria, destacando ser imprescindível a existência de estruturas sociais justas, já que nem o capitalismo, nem o marxismo foram capazes de resolver essas questões.

"Tanto o capitalismo quanto o marxismo prometeram encontrar o caminho para a criação de estruturas justas e afirmaram que estas, uma vez estabelecidas, funcionariam por si mesmas. Afirmaram que não apenas não era necessária uma moral precedente e individual, como também que elas fomentariam uma moral comum. E essa promessa ideológica se mostrou falsa", declarou.

Segundo ele, por onde passou, o marxismo deixou uma triste herança de destruições econômicas e ecológicas, como também uma dolorosa destruição do espírito. "E o mesmo se vê no Ocidente, onde cresce constantemente a distância entre pobres e ricos e se produz uma inquietante degradação da dignidade pessoal por meio das drogas, álcool e os sutis lampejos de felicidade", opinou.

O papa reconheceu, no entanto, que o trabalho político não é tarefa da Igreja, e que dessa forma, afastada da política e de políticos, pode atuar de maneira independente e com autoridade moral para ensinar os valores, orientar consciências e oferecer uma opção de vida além do âmbito político.

Voltar ao topo