Palhas ao vento

Política é a arte de aproximar contrários, já dizia uma felpuda raposa que se dedicava com inigualável brilho aos afazeres da vida pública, em anos recentes. Para os zombadores, essa visão ambígua e dissimulada dos pretensos luzeiros soava muito melhor quando a ela se aplicava a definição mais grosseira, mas não menos apropriada: política é a arte de engolir sapos.

Depois de infindáveis conversas e acertos internos, o diretório estadual do Partido dos Trabalhadores de Minas Gerais decidiu aprovar mesmo com a estreita margem de três votos a favor e três abstenções, a aliança com o PSDB do governador Aécio Neves, visando à formação da chapa que vai disputar a Prefeitura de Belo Horizonte, nas eleições de outubro. A aliança foi costurada pelo governador e pelo prefeito da capital mineira, Fernando Pimentel, um quadro petista com elevados índices de popularidade, mas impedido pela legislação eleitoral de disputar o terceiro mandato.

Pimentel realizou nos seus dois mandatos uma administração acima da média em Belo Horizonte, além de se aproximar politicamente do governador Aécio Neves, que em momento algum dificultou a manutenção de um canal aberto de entendimento e cooperação com o prefeito, tendo em vista as vantagens que a gestão municipal podia obter do governo do Estado. A proximidade entre os dois políticos acabou ensejando os principais argumentos para o amadurecimento da aliança PT-PSDB para a disputa em Belo Horizonte, assim como propicia a abertura para uma provável candidatura de Pimentel ao governo estadual em 2010, com a retribuição do apoio de Aécio.

Dessa forma, o candidato a prefeito deverá ser indicado pelo governador, recaindo a escolha sobre o atual secretário estadual do Desenvolvimento Econômico, Márcio Lacerda, filiado ao PSB. Ao PT caberá a indicação do candidato a vice-prefeito, com preferência pelo deputado estadual Roberto Carvalho, um dos cinco parlamentares da bancada de oito que apoiou a proposta da aliança. O fato de o governador não contar com um nome de prestígio em seu próprio partido para lançá-lo à disputa pela Prefeitura da capital, situação replicada também pelo PT, teve peso ponderável no entendimento.

O diretório municipal, por ampla margem de votos, já havia referendado o acordo que, entretanto, depende agora do crivo da executiva nacional. O assunto será examinado na reunião marcada para a próxima segunda-feira, 26, e os opositores do apoio a Márcio Lacerda afirmam que a proposta sofrerá um veto irreversível. Um dos formuladores da tese, o deputado federal Virgílio Guimarães, no entanto sublinhou que a vitória foi incontestável e diante disso a parte sensível da executiva nacional vai ratificar a validade da opção dos petistas mineiros.

Puxando o assunto para mais perto, considerada a crise existencial que aniquila o PMDB e transforma em tarefa quase impossível a conquista de um mínimo de exposição pública para a candidatura do reitor Carlos Moreira à Prefeitura de Curitiba, não haveria aqui também a probabilidade do partido do governador fazer a devida louvação e dispensar o espírito de entrega de seu virtual candidato e aninhar-se no serralho petista abraçando a campanha de Gleisi Hoffmann, como já o fizera com o deputado Angelo Vanhoni?

A visão egocêntrica da liderança de araque que o aparelhou, transformou o PMDB paranaense (Curitiba é o exemplo gritante) num partido anêmico, sem expressão e carente de quadros. Resultado ainda mais ruinoso foi o amordaçamento imposto aos raros jovens que resolveram ingressar na vida pública pelo portal duma legenda que, pelo passado combativo, decerto julgaram a mais recomendável. Ledo engano. Se não se despiram da autonomia, atrelando a prática política e o discurso ao cabresto a que acabaram se afeiçoando os serviçais do governador pelos longos anos de subordinação, seus conceitos, por mais autênticos e relevantes, foram como a palha atirada ao vento. 

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