Outra batalha

Algumas surpresas nos resultados e muitos problemas com o sistema eletrônico marcaram a maior eleição já havida no Brasil e provavelmente em todo o mundo, com a movimentação de quase dezenove mil candidatos e mais de 115 milhões de eleitores. A decisão principal, entretanto, dependerá de um segundo turno: Lula e José Serra nem mal contabilizaram os votos gerais e já estão na estrada outra vez, agora no tudo ou nada do segundo turno. Também em outros estados esta é a ordem, incluindo o Paraná, que restringe a disputa entre dois ex-governadores – Álvaro Dias e Roberto Requião.

É uma segunda eleição. E ninguém pode se dizer eleito, apesar do maior ou menor número de votos obtidos no domingo que passou. Lula, por exemplo, sabe muito bem disso e, embora esteja montado em aparente vantagem, terá que reavaliar sua máquina de campanha em função, inclusive, dos resultados já sabidos para a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. O mesmo problema tem José Serra, na hipótese renascida de uma vitória sua: governar, seja qual for o vencedor, deverá ser um ato permanente de presidir coalizões. Ganha a democracia, que depende, sempre mais, de um Legislativo infelizmente pouco levado em consideração nesta eleição que passou.

Até o dia 27 próximo, quando todos deveremos outra vez comparecer diante do teclado eletrônico (e espera-se que a Justiça Eleitoral trabalhe rápido para corrigir os erros e problemas verificados) para a decisão final, há tempo para decifrar o que é, exatamente, esse pacto social de que tanto se falou nos últimos dias. Também é importante avaliar como se comportam os candidatos no inevitável realinhamento de forças, muitas delas antagônicas no primeiro turno. Eleição conduzida como um negócio, geralmente acaba por desaguar num governo também administrado como uma imensa troca de interesses, nem sempre respeitoso aos interesses dos eleitores. Ademais, as advertências que nos chegam do exterior também precisam ser consideradas. Nem tudo o que foi até aqui prometido teria como ser cumprido. Embora o sonho seja sempre bom, melhor ao eleitor é apostar na realidade.

Espera-se do segundo turno um amadurecimento de todos – candidatos e eleitores. É para isso que a legislação sepultou o velho sistema que dava sempre ao mais votado, de forma simples, a vitória, mesmo que contra ele estivesse a maioria dos votos concedidos aos demais. Contribuirá para esse amadurecimento uma reflexão mais funda de parte a parte e, com certeza, brotarão mais fáceis as diferenças.

Nesse aspecto, entretanto, o caso do Paraná passa a ser preocupante. Já antes do resultado final do primeiro turno, os dois contendores na dianteira da disputa passaram a agredir-se mutuamente, numa prévia do que poderá ser este ápice de campanha. O eleitor paranaense, provavelmente, gostaria de ouvir mais propostas a respeito dos problemas que o afligem e menos ofensas (e pensar que no passado ambos subiram nos mesmos palanques…), até porque os que ganham não terão, nem espaço, nem aval, para simplesmente esmagar adversários, assim como dos que perdem espera-se uma oposição tanto mais vigilante quanto construtiva. O bom nível desse segundo tempo dependerá, quer no cenário nacional quer no local, também do eleitor.

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