Os sem-diploma em debate

Está em debate no cenário político nacional uma questão tão trivial quanto fundamental, dependendo de que lado se olhe o problema: que tipo de formação deveria ter um presidente da República? Um sociólogo de reconhecimento internacional e muitos livros escritos, um economista com bagagem e respeitabilidade acima da especulação dos mercados, um jurista de fundo saber e ilibada conduta? Um matemático, um comunicador, um administrador com muitos doutorados e cursos de especialização? Um poliglota capaz de se comunicar com o mundo sem a necessidade de intérpretes? Um comerciante que domine todo o processo de importações e exportações? Um contador ou tributarista, com amor à causa e ódio de sonegadores? Ou um simples e bem intencionado mortal, formado nas escolas da vida com a humildade e o equilíbrio necessários para bem se assessorar e errar o menos possível?

Antes de ir avante, lancemos olhos ao passado para ver que já tivemos um pouco de tudo. De barões a ditadores, até militares fardados e bem treinados para a doutrina da guerra e ciosos das questões relativas à segurança nacional. Nem todos os que lá estiveram tinham experiência na arte de bem administrar. De dom João VI a Fernando Henrique Cardoso, a terra brasilis e sua gente, em se falando de experiências, não tem do que reclamar. Vai daí que o atual presidente da República, um sociólogo renomado e poliglota respeitado, que até aqui se disse neutro nas condução da luta pela sua própria sucessão, entrou no debate de viés. E disse que, no ofício de governar, o diploma para nada serve. Ele saiu em socorro de Lula, o ex-sindicalista sem diploma e sem experiência administrativa alguma na área pública ? um telhado de vidro que é alvo de muitas pedras por parte de seus adversários.

FHC contrariou a linha de argumentação na guerra de palavras promovida pelo candidato de sua preferência ? José Serra ?, que criticava as incongruências petistas com muita propriedade: como exigir, como em São Paulo exige uma prefeita petista, diploma de curso superior para reles servidores, enquanto o aspirante à magistratura maior é um sem-diploma? Essa é uma questão que depende de cada situação. O que um presidente precisa ter é competência, capacidade de resolver questões, estar preparado para resolvê-las. Em sua apologia do saber, FHC foi mais longe: tem gente ? disse – que passou pela universidade e não está preparado para nada. Tem gente que não passou e, no entanto, está preparada. Há uma terceira via vislumbrada pelo sociólogo diplomado: tem gente que não passou e não está preparada. Resumo da ópera: que neste país de diplomados pela indústria do saber e doutorados na escola da vida não se estressem os sem-diploma. Possuir um canudo nada conta. Exceto o tempo e o custo para obtê-lo, tanto faz como tanto fez. Numa eleição vale quem tem mais voto. E viva a sabedoria popular!

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