Os quarenta ladrões

O deputado cassado Roberto Jefferson foi crucificado como bom ladrão. É uma figura ímpar, misto de malfeitor e defensor da causa pública. Aliás, nem tão ímpar, em se tratando de um político, pois a maioria parece que apresenta esse perfil bivalente e paradoxal. Depois de ter denunciado o mensalão e o caixa 2, revelando nomes e números, Jefferson foi o primeiro a ser cassado por falta de decoro parlamentar. Ficou a impressão de que decoro parlamentar exige silêncio e conivência, quando se trata de maracutaias praticadas por gente da mesma corporação. Foi defenestrado do seu meio, deixando um rastro de denúncias que abrangeu todo o entorno do presidente Lula. Apesar de cassado, Jefferson ainda abocanhou uma bela aposentadoria da Câmara, benefício cobiçado também pelo deputado paranaense José Janene, que não o conseguiu e parece que não vai conseguir enquanto não for julgado pela Comissão de Ética e pelo plenário da Câmara Federal. Aí, tem chances, e muitas, pois é mais que provável que será absolvido. Entrará na festa da pizza, com a desculpa de que, afinal, o dinheiro que embolsaram era do povo, portanto, de ninguém… Se não for cassado, Janene ainda poderá aposentar-se por motivo de saúde. Se seu coração não anda bem, como dizem os médicos, seu conceito de participante dos mensalões e caixa 2 é igual ao de seus pares, que mereceram do plenário plena indulgência.

Não há como não observar o bom ladrão Roberto Jefferson, pois já cassado e com a fama de denunciante e embolsador também de dinheiro público, bem que poderia ficar caladinho para não aumentar a sanha de seus pares contra sua maculada figura. Mas ele não se cala e volta à rinha denunciando mais gente.

Comentando a denúncia feita pela Procuradoria Geral da República, que nesta primeira etapa atingiu quarenta ladrões, inclusive cassados, absolvidos e perdoados, além de negocistas que não são parlamentares, Jefferson acaba de dizer que o Ministério Público Federal agiu bem, mas deixou de fora cerca de 20% dos malfeitores. Aponta o ministro Ciro Gomes, que teria recebido, através do valerioduto, R$ 500.000,00. Outros teriam também embolsado dinheiro e estão fora da denúncia.

Mais relevante do que denunciar que houve nomes omitidos entre os que praticaram corrupção passiva é a denúncia do ex-deputado petebista carioca de que falta apontar os que cometeram corrupção ativa. Ou seja, aqueles que pagaram o dinheiro no esquema orientado por José Dirceu. Não há na peça do Ministério Público denúncias contra os que deram o dinheiro para o pagamento dos mensalões, caixa 2 e proibidas comissões por fora em negócios do governo. Só há, nesse lado do mar de lama, a certeza de que a origem primeira do dinheiro foi o povo. O povo que foi roubado.

Jefferson lamenta ainda que Lula tenha ficado de fora, pois a oposição emburrecida não o incluiu em denúncias e não pediu, tempestivamente, o ?impeachment?. Perdeu o momento histórico e houve tempo de blindar o presidente e ainda permitir que ele conservasse prestígio junto às massas. O pedido de ?impeachment? deverá vir agora, por iniciativa da Ordem dos Advogados do Brasil, mas sem tempo para ultimar-se e sem clima para acontecer. O povo, que pagou toda essa conta, parece que ainda está do lado do presidente.

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