Os adolescentes e a Educação Física na escola

No livro Psicologia do esporte, diversos autores escreveram sobre a importância da opção participativa da Educação Física na escola. Buriti (1997) relata que as primeiras idéias sobre a psicologia do esporte e sobre as vantagens da prática esportiva orientada foram realizadas por Williams August Stear, o idealizador da primeira cátedra de Educação Física, em 1895; que o primeiro laboratório de Educação Física foi montado, em 1891, por Georg W. Fitz, e que o primeiro estudo investigativo sobre o rendimento dos ciclistas foi realizado, em 1895, por Norman Triplett, psicólogo da universidade de Indiana.

Mas foi um pesquisador chamado Griffith que fez da psicologia do esporte uma carreira com base em estudos de observação em laboratório e em campo, de 1920 a 1930, o que lhe deu o nome de pai da psicologia do esporte. A ele é atribuída a responsabilidade dos dois primeiros períodos, entre 1921 e 1938.

Outros estudiosos marcaram o terceiro período (1939-1965): Henry, que ministrou a disciplina de Psicologia para alunos de Faculdade de Educação Física na Universidade da Califórnia, em Berkeley; Johnson, que publicou seu estudo em 1949 e um grupo de estudiosos comandados por Henry e Ulrich (1943), que pesquisou o stress no rendimento dos atletas. O quarto e o quinto período ocorreram entre 1966 e 1995, e o último período é o que está sendo vivenciado. Atualmente já existem estudos de populações específicas, laboratórios especializados, universidades com departamentos de Psicologia do Esporte e livros escritos, mas é pouco.

Os autores atuais estão preocupados com a qualidade dos programas de Educação Física escolar e buscam dar-lhes um novo sentido. Diante da confusão existente a respeito dos conceitos de educação física, de esporte e de lazer, Machado e Presoto (1997) definem que o esporte é um meio de educação se estiver organizado em função de aula de Educação Física em instituições de ensino. Para que o esporte seja considerado Educação Física e lazer deve eleger a prática participativa na escolha das atividades caracterizada pela inclusão de todos os alunos. Não é ético dar aos exercícios somente a dimensão de competição e, pior ainda, o tratamento de mercadoria, como vem acontecendo no mercado esportivo em que muitos fazem do esporte a demonstração de poder competitivo e deixam de lado a dimensão humana e ética.

Machado e Presoto (1997) enfatizam que os professores de educação física precisam valorizar os aspectos físicos e psicológicos. Estes últimos devem receber prioridade. Mais que treinamento, é preciso voltar-se para a descoberta da potencialidade que cada adolescente tem e ouvir suas sugestões para a prática do movimento pela Educação Física. Muitas vezes os pais contribuem com a falta de democracia na escolha das atividades físicas quando condicionam que o filho só estuda em uma determinada escola se lá tiver uma forte equipe de basquete ou de natação.

Os professores devem respeitar também o período característico da adolescência, que vai dos 12 aos 20 anos e que envolve expressões próprias dos adolescentes. O corpo está em desenvolvimento, o adolescente questiona os valores da família e da sociedade, revolta-se consigo e com sua condição social, torna-se irriquieto, desconfiado e inseguro.

Se os professores conhecerem a psicologia do esporte e do adolescente conseguirão canalizar atividades e assumir posturas de compreensão das manifestações dos adolescentes cujo comportamento nas atividades físicas depende do que eles herdaram nos aspectos da genética, no modo de socialização, nas condições sociais e econômicas, ambientais e comunicacionais, sem esquecer o tipo de personalidade do indivíduo. Existem também fatores sociais como os ajustes sociais que influenciam na crise emocional dos adolescentes. É indispensável considerar que, na sociedade em rápida transformação como a de hoje, os adolescentes precisam se ajustar aos próprios problemas, mas também às mudanças sociais. (Machado,1997)

Estudos revelam que os adolescentes priorizam cada vez mais os resultados das competições e que a rivalidade transforma em inimigos os atletas das duas equipes. Na avaliação de Buriti (1997), isso ocorre por falta de aconselhamento e despreparo dos professores. Estes precisam agir interdisciplinarmente com os psicólogos. Diante disso, os autores convocam os professores de Educação Física a fazerem uma nova caminhada para que todos sejam incluídos na prática participativa.

Zélia Maria Bonamigo

é jornalista, especialista em Mídia e Despertar da Consciência Crítica. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. E-mail:
zeliabonamigo@uol.com.br

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