Oposição diz que depoimento de Bastos aumentou suspeitas

Em vez de esgotar o assunto, como esperava o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), senadores da oposição afirmam acreditar que o depoimento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na Câmara aumentou as suspeitas de que ele ajudou a montar o acobertamento do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci na violação da conta do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o "Nildo". Para o senador Jefferson Péres (PDT-AM), faltou Bastos explicar por que acompanhou o criminalista Arnaldo Malheiros à casa de Palocci. "Indicar um advogado amigo, tudo bem, é normal. Agora, acompanhá-lo na conversa com o cliente reforça a suspeita de o ministro participou da estratégia de defesa", alegou. "Aí, ele exorbitou." Péres apontou esta e outras "lacunas" não questionadas pelos deputados como motivo para Bastos depor no plenário do Senado.

O senador disse não saber se é real a segurança demonstrada pelo ministro diante dos parlamentares, depois de ter visto a mesma performance nas negativas do próprio Palocci, do ex-deputado José Dirceu (PT-SP) e do ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento do partido Delúbio Soares. "Todos eles foram muito firmes na negativa derrubada pouco depois por documentos e testemunhas", lembrou. O requerimento do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), convidando o ministro para falar no plenário só será votado depois de examinadas duas medidas provisórias (MPs) que obstruem a pauta. Virgílio disse ser esta a chance de Bastos "defender-se como cidadão, que, em vez de cumprir com o papel de ministro, teria procurado defender envolvidos em atividades que ferem os princípios constitucionais".

No entender do presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), além de não dar explicações convincentes, o depoimento de Bastos na Câmara foi tumultuado. O que, acredita, deixou a sociedade sem respostas. "Os senadores têm, portanto, obrigação de questioná-lo o quanto antes", defendeu. "Ele tem demonstrado ser um excelente advogado e um ministro da Justiça ausente, não tem se ocupado da pasta, tem sido um criminalista a serviço de Lula e de seu governo", criticou.

Se dependesse do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), Bastos deveria ser ouvido no Senado depois do depoimento do ex-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF) Jorge Mattoso. Caso contrário, prevê que o ministro insistirá no que disse na Câmara, apesar da "atitude comprometedora" que teve no episódio. "Ele passou a ser o protetor do investigado e a Polícia Federal (PF) está sob a sua subordinação", lembrou. Na avaliação de Dias o fato de Mattoso ter sido indiciado, "sujeito a uma condenação", pode comprometer os atuais argumentos de Bastos.

Para o líder do PFL, senador José Agripino (RN), o ministro da Justiça deixou uma série de indagações no primeiro depoimento. "Não disse porque depois do fato divulgado, o governo se mobilizou para defender Palocci", apontou. Na opinião dele, criminalista como é, Bastos não poderia se enganar quanto ao envolvimento de Palocci e Mattoso. "Ele é o ministro da Justiça ou o advogado criminalista do PT?", questionou. Agripino disse que foi também o ministro quem trouxe Malheiros para defender Delúbio e o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira. O que, defendeu, o torna "um reincidente pago com dinheiro público e envolvido em más causas".

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