Objeto do desejo

O ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, não se afastou uma vírgula do discurso que vinha fazendo sobre o ritmo da derrubada da floresta na região da Amazônia Legal, desde a revelação de seu nome para a substituição de Marina Silva. O Estado de Mato Grosso continua sendo o líder disparado no avanço sobre a mata, sendo a cruel realidade mais uma vez corroborada pelos números relativos a abril, apurados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Todavia, se alguma coisa mudou na logística do ministro Carlos Minc, foi o tom inamistoso e arrogante que empregou ao se referir ao governador Blairo Maggi (PR), o maior produtor individual de soja do mundo e, na concepção do ministro, o ?campeão? da derrubada da floresta. A retórica do último pronunciamento de Minc, ao comentar os números do Inpe, nem chegou perto da agressividade do discurso inicial, quando o ministro bateu de frente com o governador, anunciando uma série de medidas coercitivas ao desmatamento. Sem dúvida, entraram em ação os bombeiros do Palácio do Planalto, dentre eles o mais credenciado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que além da amizade pessoal com Maggi, tem no Partido da República um dos apoiadores mais fiéis na base governista.

Minc disse aos jornalistas que já resolveu as questiúnculas com o governador numa conversa por telefone, lembrando que em breve fará uma visita pessoal ao estado a fim de fiscalizar de perto a validade das providências tomadas para conter o abate indiscriminado de árvores, dando espaço para o cultivo de soja e expansão da pecuária de corte. Para o ministro existe a probabilidade de celebrar uma parceria com o governador de Mato Grosso, com o objetivo precípuo de alcançar maior rentabilidade na soma de esforços pela preservação da floresta amazônica.

Aliás, não há mais tempo a perder com discursos inflamados ou despistes evasivos dos que não conseguem ocultar a gravidade da questão, a não ser uma ação concentrada e eficaz no sentido de cortar o embalo dos agricultores e pecuaristas, que tudo indica transformaram a Amazônia no seu objeto de desejo. O Inpe informou que o desmatamento na região, no mês de abril, foi equivalente a uma área de 1.123 quilômetros quadrados, cuja soma é igual aos territórios ocupados pelos municípios de Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre. O avanço da fronteira agrícola sobre a floresta foi determinado pela valorização dos preços internacionais da soja e da carne bovina, antecipando a estimativa que o ritmo deverá continuar crescente até o final do ano.

Quando ainda à frente do Ministério do Meio Ambiente, ao anunciar a então mais recente medição realizada pelo Inpe, Marina Silva chocou o País e o mundo com dados alarmantes sobre a destruição criminosa da floresta e, por esse motivo se tornou alvo de reprimendas do presidente da República, que em público prestou o extraordinário serviço de colocar em dúvida a metodologia e os equipamentos utilizados pela agência científica de renome mundial, agora identificada por Carlos Minc como ?instituição seríssima?. Naquela ocasião o Inpe não era tudo isso, atraindo de quebra o menosprezo do governador Blairo Maggi, que não se sabe de onde sacou a blandícia que o governo estadual dispunha de um aparato mais eficiente para a pesquisa de campo, obtendo maiores índices de acerto.

Pelo fragor das moto-serras e o crepitar incessante das queimadas, todos sabem que o desmatamento de 2008 será mais contundente que o registrado no exercício passado. O próprio ministro do Meio Ambiente lembrou que a ?barra pesada? ainda está para vir, numa referência ao período da seca que se estende até setembro.

O governo pretende cortar o crédito dos produtores rurais das regiões embargadas e despachar 500 homens da Força Nacional de Segurança para vigiar a floresta. Blairo e a bancada ruralista prometem resistir. 

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