O último cartucho

O deputado José Janene (PP), personagem notório em todo o País, sobretudo na região norte do Paraná, espécie de manancial de onde amealhou sucessivos mandatos na Câmara dos Deputados, está fazendo das tripas coração para evitar a cassação e a suspensão dos direitos políticos por dez anos.

A preocupação nem deveria ser tanta, a não ser pelo espírito de luta entranhado na maioria das pessoas, vez que o citado parlamentar afastou-se das funções por licença médica em face de grave cardiopatia que o atormenta há algum tempo.

Em função dessa constatação de ordem médica, Janene solicitou à mesa diretiva da Câmara a aposentadoria como deputado federal, indicando não estar mais em seu plano pessoal lançar-se a novas empreitadas eleitorais.

Mas enquanto aguarda a resposta ao pleito, lança mão de todos os artifícios possíveis e imagináveis facultados pelo regimento interno para embargar o andamento do processo de cassação no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. O último recurso foi pedir o adiamento dos depoimentos das testemunhas marcados para o dia de ontem pelo presidente do conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP).

O argumento de Janene, hábil na formulação à luz das normas regimentais, é que não estando presente à sessão será, obviamente, prejudicado na costura da peça que pretende oferecer em defesa própria. Izar, espicaçado pelas reiteradas derrotas dos pareceres da comissão pelo plenário da Casa, respondeu que os depoimentos seriam tomados na data aprazada.

Pela interposta pessoa de um enigmático assessor de gabinete, José Genu, o deputado paranaense foi abastecido por alguns milhões de reais das contas do publicitário mineiro Marcos Valério de Souza, com a finalidade de regar a horta de integrantes da bancada de seu partido na Câmara, especialmente na véspera de votações de interesse vital para o governo.

A prática asquerosa, que recebeu do ex-deputado Roberto Jefferson a denominação vulgar de mensalão, cujos efeitos ainda corroem as entranhas da administração de Lula, como ficou provado à saciedade pela confirmação de quase todos os indícios apontados pelo então presidente nacional do PTB, teve na pessoa do deputado José Janene um de seus expoentes.

Mas o homem está disposto a defender-se até o último cartucho.

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