O que esperamos de Lula

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faria muito pelo País se, ao invés de priorizar a solução dos problemas macroeconômicos, também procurasse voltar suas atenções para outro gênero de preocupação de extrema importância: a melhoria do atendimento prestado à população nos órgãos públicos. Atendimento que, salvo raras exceções, deixa muito a desejar – sobretudo considerando-se os compromissos assumidos pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições passadas, com a melhoria da qualidade de vida da população.

Basta citar como exemplo a Caixa Econômica Federal. Criado há 142 anos com o objetivo principal de conceder empréstimos a juros baixos e estimular a poupança popular, o banco subverteu suas funções iniciais. Hoje, a CEF tem agido como qualquer instituição financeira de capital privado, cujo propósito fundamental é o lucro. Na prática, esse modus operandi se traduz em uma equação largamente utilizada no capitalismo que os cidadãos comuns conhecem bem: redução de despesas + aumento da captação de receitas = má qualidade do atendimento.

Na semana passada, tive um exemplo concreto de que como esse problema prejudica a vida dos cidadãos. Tive que me deslocar até a agência da CEF da Praça Carlos Gomes, no centro de Curitiba, para pagar uma dívida. Fiquei 40 minutos na fila – o dobro do tempo máximo previsto na lei de autoria do agora deputado estadual Tadeu Veneri (PT), aprovada na Câmara Municipal há mais de dois anos.

Peço desculpas aos funcionários do banco que trabalham com seriedade mas, no momento em que fui atendido, por volta das 12h50 (o horário de pico dos bancos), havia apenas 4 funcionários operando os caixas do banco. O detalhe é que a organização interna da agência obriga os cidadãos a dividirem a mesma fila para resolver pendências tão díspares como pagar prestações de imóveis financiados até receber o seguro-desemprego. Além disso, as funcionárias que deveriam orientar as pessoas na fila eram em número suficiente para atender a todos. E nas duas únicas mesas localizadas em frente aos caixas para o preenchimento de guias de depósito e pagamento não havia sequer canetas à disposição dos clientes.

Compreende-se porque a CEF encerrou o semestre com o maior lucro líquido da sua história entre janeiro e junho (R$ 860 milhões, 52,4% a mais do que o valor obtido no ano passado) e porque o banco planeja fechar 2003 com um lucro recorde entre R$ 1,4 bilhão e R$ 1,5 bilhão. É louvável que a Caixa Econômica Federal revele eficiência nas suas operações financeiras e apresente números pomposos no seu balanço anual.

Mas é inadmíssivel que o custo desse desempenho econômico positivo seja um atendimento de má qualidade à população, sobretudo em se tratando de um banco público sob o comando de um governo petista. Decididamente, há um claro limite para a economia de despesas e o lucro das instituições financeiras públicas: o respeito à população. Lamentavelmente, porém, isso é exatamente o que tem faltado da parte de muitos órgãos públicos. E respeito com a nação não depende da aprovação do Congresso Nacional. Depende apenas da vontade política e da ação administrativa do governo. É o que esperamos que aconteça, ao menos a partir de agora.

Aurélio Munhoz

(politica@parana-online.com.br) é editor-adjunto de Política de O Estado do Paraná e mestrando em Sociologia Política pela UFPR.

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