O presente que apaga o futuro

Os índices de escolaridade divulgados pelo Ministério da Educação esta semana deveriam envergonhar toda a nação. Não os políticos, que por definição não se envergonham facilmente, mas a estrutura em que a escola se insere, começando pelos ministros, secretários de educação estaduais e municipais, inspetores de ensino, diretores de escolas e professores. A realidade é que a escola brasileira está metida em um atoleiro e todos são, em grau maior ou menor, responsáveis por esta situação.

Se houver consciência, aquela de se assumir cada um em sua escola ou departamento o seu erro, porque cada um o tem, e não a postura tão brasileira de empurrar a batata para o vizinho, ou para o superior, ou para as condições econômicas adversas, aí talvez o país possa começar a reconstrução de seu sistema de ensino para um eficiente que produza homens e mulheres para fazer do Brasil um grande país. Sem que ninguém admita o erro, como corrigi-lo? E, se não há erro, por que os índices são tão ruins? A escola é o elo mais frágil da falta não de uma estratégia, mas de um interesse coletivo pelo destino da nação, que repousa em cada um. Ao se mudar esta mentalidade, não é só a escola que muda, que pode ser melhor, mas toda a futura sociedade brasileira.

Hoje, sabemos, a sociedade é atingida pela violência, que também chega à escola. Mas a escola também é vítima do desinteresse dos alunos, e a razão deveria ser buscada não apenas diretamente em causas sociais. Afinal, um quadro social adverso poderia ser estímulo para se procurar na escola a possibilidade de se obter, no futuro, melhores condições de vida. E isto não acontece. A realidade é se um aluno não quer ir à escola é porque ela deixou de ser um lugar agradável ou que tenha uma relação concreta com o seu futuro. É porque a realidade e a escola estão fora de sintonia. É porque ali o aluno não consegue respostas claras em relação ao futuro do país. É porque, talvez, este aluno saiba que ao final de uma jornada intensa de vários anos de estudos, tem grandes chances de ficar apenas com um diploma na mão e uma sociedade que não lhe oferece nenhuma oportunidade.

Enfim, há um ciclo vicioso que não estimula alunos, professores, diretores e afunda a escola no descaso. Todos têm a sua razão. Os alunos se queixam da escola, dos professores e do que aprendem. Os professores se queixam da escola, de alunos e do que ensinam. Os diretores se queixam de alunos, professores e do governo. O raro é ver e ouvir soluções concretas e exemplos de que o melhor pode ser feito e está sendo feito. Quando a nossa escola for melhor, o nosso país certamente será melhor. Mesmo que, atualmente, isto não ocorra. Mesmo que, atualmente, não se veja alternativas.

Acontece que compete à escola, em grande parte dos casos, formar líderes e profissionais para conduzir a política, a economia e a cultura de um país. E a qualidade destes líderes é que vai determinar o país que teremos. Um país melhor. Ou, um país ainda pior. É possível a escola ser melhor. Não é possível um país ser desenvolvido ou grande com uma escola medíocre, que esbanja ou ignora uma grande parte de sua juventude.

Edilson Pereira

(edilsonpereira@pron.com.br) é editor em O Estado.

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