O preço da mentira

A verdade é verdade, mesmo que na boca do diabo. A mentira é mentira, não importa quão poderosos sejam os que a pronuncia. Dessa estúpida guerra que George W. Bush e Tony Blair travam contra Saddam Hussein, tendo como vítimas o povo iraquiano e militares dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, há sonegação da verdade e mentiras escabrosas, para enganar a opinião pública nos países envolvidos e do resto do mundo. Parte dessas omissões e mentiras buscam criar clima de medo nas hostes adversárias e otimismo nas que se julgam em condições de vencer a guerra.

Um exemplo é o que disseram soldados norte-americanos feridos em campo de batalha e levados a um hospital de uma base militar norte-americana na Alemanha. Jovens militares foram arrancados do convívio de suas famílias, de seu país, e jogados no deserto para “libertar” o povo iraquiano da ditadura de Saddam Hussein. Que é uma ditadura, não é mentira. Mentira foi dizer-lhes que o povo iraquiano queria libertar-se de seu líder-ditador. Os militares norte-americanos feridos declararam que ficaram estupefatos porque esperavam ser recebidos com carinho e aplausos pelo povo que estavam “libertando”. E foram recebidos a tiros. Não compreenderam essa “ingratidão” dos iraquianos.

O que não sabiam é que, embora Saddam seja um ditador cujos atos repugnam aos nossos sentimentos, ele tem apoio de praticamente cem por cento do seu povo, que, enganado, o endeusa. Também não sabiam, porque omitido, que o objetivo principal dessa guerra é o domínio do petróleo iraquiano e não a libertação do seu povo. Pelas liberdades do povo iraquiano os líderes americanos e britânicos não dão a mínima.

A opinião pública dos países agressores e do resto do mundo, que se posta quase que unanimemente contra essa guerra, também foi tapeada quando as forças coligadas espalharam que venceriam o Iraque em dois ou três dias. E desenrolou-se uma guerra mais longa, sangrenta, com milhares de civis vitimados. E conjecturas sobre um possível governo norte-americano no Iraque, um ato de imperialismo. Essa mentira objetivou estancar os movimentos de protesto que ocorrem em quase todos os países do mundo, inclusive nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, onde também ponderável parcela da população é contra a guerra agressora.

Mais mentiras têm surgido. Uma delas foi divulgada pelo primeiro-ministro britânico Tony Blair, declarando que dois ingleses feitos prisioneiros pelos iraquianos haviam sido fuzilados. A irmã de um deles desmentiu de pronto, declarando que recebera dos próprios chefes do soldado inglês a informação de que ele morrera em combate. O primeiro-ministro mentiu, pecado maior sendo o chefe de um dos governos agressores.

Os meios de comunicação têm sido manipulados, manietados ou mesmo agredidos, contrariando a Convenção de Genebra. Dir-se-á que, chegando a vitória, que se presume seja das forças agressoras, tudo acabará sendo esquecido. Cremos que não, pela iniquidade da agressão, pelo número de vítimas, inclusive civis, pelo desmascaramento das mentiras e porque duas das mais importantes democracias do mundo, EUA e Grã-Bretanha, impuseram pela força seus próprios interesses. Se dissessem verdades, mesmo saindo das bocas diabólicas de Bush e Blair, seriam verdades.

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