O PIB e o mínimo

O salário mínimo no País passou de R$ 350,00 para R$ 380,00. É pouco, quase nada se comparado ao valor calculado pelo Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos, que diz que o mínimo, de acordo com sua definição legal, já deveria estar próximo dos R$ 2.000,00. Este seria o ganho suficiente para as despesas básicas de um trabalhador e sua família, aí incluídos gastos com moradia, alimentação, saúde, educação e o que mais é indispensável. O governo decidiu desmembrar e atrasar a tramitação do projeto que estabelece uma política de longo prazo para o salário mínimo, estabelecendo a majoração de 8,57% fora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e por medida provisória. Tal fato ocorreu porque o governo começou a amargar derrotas na apreciação do PAC, em cujo bojo está estabelecido que o salário mínimo terá, a cada ano, reajustes reais acima da inflação – correspondentes à expansão do Produto Interno Bruto de dois anos antes de sua decretação.

De qualquer forma, a política de regras permanentes para elevar o salário mínimo, evitando que ele seja a expressão da vontade dos políticos para ser o resultado de cálculos que tomam em conta o crescimento do PIB, vai vigorar de 2008 a 2011. O trabalhador deixará de depender do humor dos políticos para ter um mínimo calculado com base na inflação mais o crescimento do PIB. Mas que PIB? Há poucos dias, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mudou a metodologia de cálculo do PIB e descobriu, para satisfação dos atuais governantes, que o Brasil cresceu mais do que a ninharia antes anunciada e que nos deixou, pela segunda vez, na posição vexatória de penúltimo lugar na América Latina, só ganhando do Haiti. Com a nova metodologia, ficou provado que crescemos mais do que o previsto e anunciado, embora ainda muito pouco em relação aos países em desenvolvimento, entre os quais o nosso deseja estar, e abaixo da média de crescimento do mundo, onde há países miseráveis, como a maioria dos africanos e muitos da Ásia. A mudança de metodologia fez com que fosse incluída no Produto Interno Bruto boa parte do trabalho informal que efetivamente existe, mas escapa às estatísticas.

Nada a condenar nessa atualização de metodologia de cálculo do PIB, apesar de, para o povo brasileiro, a notícia não refrescar nada. Continuamos na mesma. As mudanças são perceptíveis para os estatísticos e, quem sabe, para os economistas do governo. Alimentam os discursos dos mandantes, mas não enchem a barriga de ninguém.

De qualquer forma, nos faz pensar que o PIB brasileiro e seu pequeno crescimento poderiam ser maiores ainda se este não fosse o país do desperdício. Por definição, país é uma nação politicamente organizada. O Brasil é organizado, mas tem setores que são uma grande bagunça, um deles a burocracia que acusa desperdícios. E para que não culpemos só o governo, mas também setores empresariais e da sociedade, lembremo-nos de quanto aqui se desperdiça, por exemplo, em material de construção civil. Ou na alimentação, com o descarte de partes dos alimentos aproveitáveis e fontes protéicas comprovadas. Ou o desperdício de alimentos no armazenamento ou falta dele e no transporte ou falta de transporte. Cálculos revelam que, em comida, os brasileiros perdem por não-aproveitamento resultante de hábitos alimentares errados, por apodrecimento ou perda no transporte, alguma coisa em torno de 40% da produção. Se isso for somado ao PIB, a futura regra de cálculo do salário mínimo vai elevá-lo não até onde querem os trabalhadores, mas a um patamar bem mais alto do que o desejado pelo governo.

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