O julgamento eleitoral

Das eleições, a de chefes de prefeituras é a que menos indica julgamento de partidos, coligações e de governos hierarquicamente superiores. Os prefeitos das cidades pequenas e médias vivem e convivem mais com suas populações e por elas são mais objetivamente julgados. Se nada fazem, todos sabem. Se fazem alguma coisa, percebem-no seus correligionários, e fingem ignorar ou minorar os opositores.

O mesmo não acontece com prefeitos das grandes cidades. Estes, a menos que sejam excelentes administradores e hábeis políticos, não escapam da contaminação com os governadores e com o presidente, se a eles estiverem ligados. E essas comparações tanto podem ser favoráveis como contrárias. Importam ou exportam prestígio, pois embora no Brasil os partidos políticos e as coligações ainda careçam de ideologias, princípios e programas, têm um certo contorno que modela seus líderes de alto a baixo. Se, por exemplo, o governo do presidente Lula vai bem e está com alto prestígio, o todo ou parte dos aplausos que merece aproveitam a seus governadores e prefeitos, estes principalmente quando de grandes cidades. Se o prestígio é baixo ou sua gestão ainda não mereceu aprovação, a contaminação é no sentido negativo e governadores e prefeitos herdam sua perda de prestígio.

Assim, não há como evitar que as eleições municipais do último domingo, em especial a realizada nas grandes cidades, deixe de influir nas pretensões políticas dos governadores e do presidente Lula, que almeja a reeleição.

Nos maiores centros urbanos, o PT de Lula e o PSDB de Serra foram os maiores vencedores das eleições de 3 de outubro. Vinte e quatro cidades já conhecem os vencedores e outras 44 aguardam a realização do segundo turno, no próximo dia 31. São as maiores, com mais de 200 mil eleitores e algumas capitais de estados. O PT já assegurou a prefeitura de sete: Belo Horizonte, Recife, Guarulhos, Aracaju, Macapá, Rio Branco e Palmas; o PSDB ganhou em seis: São José dos Campos, Joinville, Jundiaí, Mogi das Cruzes, Campinas, Carapicuíba, Canoas. O segundo turno será crucial, pois ocorrerá em megacidades, como São Paulo, e que são dirigidas por petistas, Santo André, Osasco, Contagem, Cuiabá, Diadema, Vitória, Cariacica e Ponta Grossa.

Em São Paulo, a maior cidade do Brasil, governada por uma petista e considerada essencial para a definição ou não da reeleição de Lula, Marta Suplicy chegou em segundo lugar. Serra venceu com mais votos do que se supunha. Com mais votos do que ele próprio supunha. E o quadro que se afigura é de que vença também, e até por maior margem de sufrágios, no segundo turno.

Este segundo turno é, portanto, a despeito dos bons resultados do PT, que de fato cresceu e teve resultados positivos nas cidades onde seus prefeitos se elegeram ou elegeram sucessores, mercê de boas administrações, um pleito que delineia o futuro da presidência do Brasil. Ou o PT muito se esforça e, mais do que isso, o governo Lula acerta de vez, cumprindo as principais promessas de sua campanha, ou perde a grande vitória que conseguiu. Vitória que representou, em termos de mudança do grupo governante, uma verdadeira revolução no País, que corre o risco de ser demasiado curta e episódica.

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