O império do mercado

O dólar pode subir, a não ser que caia ou fique no mesmo lugar. Uma ação também pode subir, cair ou ficar no mesmo lugar. Nada diferente com outros ativos financeiros. Por que o dólar subiu? A pergunta foi levada ao presidente Fernando Henrique Cardoso pelo presidente do PT, José Dirceu, a pedido de Lula. O próprio candidato a presidente queria uma conversa com FHC sobre o assunto, mas diante da resposta do chefe da nação pareceu satisfeito. Fernando Henrique enumerou os fatores que têm levado às oscilações para cima do dólar, dentre elas a situação econômica internacional; a ameaça de guerra no Golfo Pérsico; a crise nos Estados Unidos e tantos outros raios na tempestade que estamos atravessando, por enquanto sem naufragar. Excluiu, cavalheirescamente, o chamado fator Lula, ou seja, a relação direta existente entre as altas do dólar em relação ao real e a real subida de Lula nas pesquisas eleitorais. Assim agindo, deixou a impressão de que não considera o sucesso político de Lula como responsável pela alta da moeda norte-americana, sem entretanto assumir responsabilidade pela indesejável valorização.

Imaginamos que Lula não esperava nenhuma resposta sobre porque o dólar subiu e, sim, que não subiu por sua causa. Pode ter menos educação formal, como dizem seus adversários; pode ter menos experiência em alguns setores. Mas burro Lula não é! Pelo contrário, é bastante inteligente e deve saber muito bem que as oscilações do dólar, como de outras moedas conversíveis, das ações etc., têm por causa condições de mercado.

O mercado impera, queiramos ou não. Nele, o essencial é a lei da oferta e da procura. Mais procura, menor oferta, igual a alta. Mais oferta, menos procura, igual a baixa. Influem decisivamente fatores que, referindo-se à economia brasileira, o governo tem chamado de fundamentos, sustentando que estes continuam sólidos. Se a economia do País vai mal, está à beira de não poder (ou não querer) pagar suas dívidas, sua economia está estagnada ou em recessão, a alta do dólar, a baixa das ações e o aumento do risco-Brasil são resultados inescapáveis. Influem também expectativas, mesmo que infundadas. Se, por exemplo, se presume que uma determinado setor da economia vai ter lucros muito elevados, as ações das empresas desse setor sobem. Se a previsão é o contrário, caem.

Quanto aos fluxos de dinheiro, sejam de investimentos fixos ou empréstimos, diante de um quadro otimista se mantêm ou até crescem. Diante de um quadro pessimista, se reduzem. Também se reduzem diante de um quadro de incertezas.

Assim, esta discussão sobre se Lula é ou não responsável pelo aumento do dólar é uma bobagem. Responsável é o mercado que, ou por não conhecer ou por conhecer e não gostar deste ou daquele candidato bem cotado, pode transformar desconfianças em dúvidas ou rejeição. E o dólar em refúgio de seus interesses. Verdade que os candidatos à Presidência da República podem e devem, da melhor forma possível, instilar confiança no mercado, dizendo e repetindo que agirão corretamente se chegarem ao poder. Devem advogar a causa do Brasil, não regando desconfianças brotadas ou plantadas no mercado.

Negar, entretanto, que a proximidade das eleições e as dúvidas sobre quem será e como agirá o presidente eleito, nada têm a ver com as turbulências em nossa economia e finanças, especialmente nas cotações do dólar, é tentar tapar o sol com uma peneira.

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