O império da lei

A polícia paraense, finalmente, conseguiu prender um dos suspeitos da morte da freira Dorothy Stang, ocorrida na madrugada do dia 12 deste mês, em Anapu, na região de Altamira, onde a extraordinária reserva florestal intocada atrai a cobiça dos grileiros e desmatadores clandestinos.

Há alguns anos trabalhando como agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), na área, a irmã Dorothy lutava pela implantação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável em cerca de 140 mil hectares que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) prometia regularizar, a curto prazo. A providência governamental jamais foi tomada, assim como nunca houve nenhum esforço do governo para coibir a ação dos grileiros.

O assassinato da religiosa, nascida nos Estados Unidos e naturalizada brasileira, foi mais uma morte resultante da luta desigual pela posse da terra. Segundo relatou a própria CPT, há uma lista de 161 nomes de pessoas juradas de morte nas regiões de projetos extrativistas, especialmente onde a floresta está intacta.

Com o apoio tático de soldados do Exército, policiais civis e militares do Pará prenderam Rayfran Neves Sales, o Fogoió, que negou ser um dos prováveis autores dos tiros que prostraram a freira em plena floresta amazônica. A polícia está em cima dos rastros do suspeito de ter ordenado o crime, Vitalmiro Gonçalves Moura, e outros capangas.

Pelo que sabe a polícia, Vitalmiro cumpre ordens de Regivaldo Pereira Galvão, o maior grileiro de terras da região, cuja ação ilícita o assemelha a um pequeno soba.

O governo Lula decretou a interdição de 8,2 milhões de hectares de florestas em terras da União, ao longo da BR-163 (Cuiabá-Santarém), além de estabelecer um gabinete provisório na região. Medidas paliativas diante de mais um crime praticado pela psicopatologia da ganância desenfreada.

A atitude do governo deve ir além da mera transposição da burocracia para as longínquas terras da Amazônia Legal. Para exterminar a guerrilha do Araguaia, nos anos 70s, o Exército deslocou milhares de homens para o chamado teatro de operações.

O mesmo deve ser feito agora, pois trata-se de coibir o crime e restaurar o império da lei e da ordem numa área equivalente ao dobro do Estado do Rio de Janeiro, que a impunidade respingou com sangue inocente.

Voltar ao topo