O choro dos empresários

Os discursos de improviso podem expressar o que se pensa. Podem, também, conter o que não foi adequado e suficientemente pensado. Eles, em geral, contêm arroubos de momento. O orador pode estar dizendo o que acredita conveniente expressar. Mas também podem conter pensamentos mal formulados, atrevidos ou inconvenientes, mesmo que contenham uma parcela ponderável de verdade. Em se tratando de um improviso de um presidente da República, especialmente do nosso, Lula, que é sem dúvida um excelente orador para as massas, mas de conhecimentos limitados em alguns campos mais complexos, é uma temeridade.

Mas Lula tem cometido essa temeridade com freqüência e seus marqueteiros e conselheiros freqüentemente recomendam que fique quieto, só abrindo a boca para dizer o que está no papel. Os discursos escritos são elaborados por “ghost writers” com mais tempo, cuidado e oportunidade de consultar especialistas. Em geral são mais adequados e consistentes. Mais indicados para um presidente de um país pronunciar, seja internamente, seja no exterior.

Lula, entretanto, mais uma vez deixou o papel de lado e decidiu falar por conta própria. E num auditório reunido na Índia, presentes além de autoridades, cerca de 150 empresários, uns trinta brasileiros que o acompanharam na visita àquele país, disse que “o momento que estamos vivendo não é para nenhum empresário ficar dentro do seu país chorando pelo que não está acontecendo”. Acrescentou: “Quero dizer aos empresários brasileiros que os da Índia são mais ousados do que os nossos. Eles já estão montando um escritório no Brasil para tratar dos seus interesses. Não dá para ficar parado na Índia ou no Brasil cobrando do governo investimentos que as pessoas já sabem de antemão que o governo não tem como fazer”.

Empresários consideraram o puxão de orelhas injusto e alguns expressaram seu inconformismo publicamente. “Não entendi a posição do presidente. Ele não foi justo com os esforços de exportação que vêm sendo feitos pelas empresas brasileiras”, disse Robson Andrade, vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria, que foi à Índia a convite de Lula.

A crítica do presidente aos empresários, em primeiro lugar, foi inoportuna, pois a fez no exterior, diante de autoridades e empresários estrangeiros, num país com o qual pretende firmar aliança comercial consistente. Havia empresários brasileiros, convidados de Lula. E compareceram obviamente interessados, não merecendo ser recebidos a pedradas. Inoportuna, ainda porque o governo brasileiro, em seu projeto de desenvolvimento econômico, prega uma associação do poder público com a iniciativa privada, pretendendo desta obter a maior parte dos recursos para obras de infra-estrutura que podem preparar o Brasil para uma era de progresso. Esses investimentos são de maturação a longo prazo e só renderão daqui a alguns anos. Difícil, pois, convencer os empresários que passam dificuldades no momento, aplicar a longo prazo em sociedade com o governo. Muito mais difícil, com um governo que os chama de chorões e os acusa de falta de iniciativa.

No mais, o recorde histórico do superávit na nossa balança comercial, com expressivo volume de exportações, mostra que o empresariado brasileiro não está inativo. Antes pelo contrário, apesar das dificuldades, está resistindo às intempéries e se mostrando agressivo na atividade econômica.

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