O calote do Zeca

Os apelidos, ou são carinhosas identificações de pessoas populares e apreciadas pela sociedade, ou marcas de marginais. José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, recebeu este apelido por ser, no Mato Grosso do Sul, popular e pessoa do agrado da maior parte do eleitorado. Tanto é que governou por duas vezes. No mais, o fato de pertencer ao PT, agremiação que passou por um inferno astral no que respeita ao seu sempre apregoado conceito ético, não o incrimina nem o torna suspeito, pois o povo lhe deu chancela e reiterou a confiança que sempre pareceu merecer. E a sigla dos trabalhadores passa hoje por uma renovação que busca a volta às suas origens de partido político moralmente inatacável. Mas, como Zeca, muitos outros governadores aprontaram e, por isso, vamos pegá-lo para cristo.

O Zeca do PT encerrou o seu mandato lambuzando a imagem que dele era feita. O ex-governador do Mato Grosso do Sul deixou de pagar R$ 27,9 milhões da parcela da dívida com a União referente a dezembro. Também não pagou R$ 8,7 milhões para cerca de 65 mil famílias beneficiadas com programas sociais (bolsa alimentação). A dívida do estado com o governo federal é de R$ 6,4 bilhões. O novo governador daquele estado, André Puccinelli, do PMDB, partido aliado do governo Lula, foi pedir ajuda ao governo federal. Se a parcela devida não for quitada até esta segunda-feira, Mato Grosso do Sul terá as suas contas bloqueadas pela União e deixará de receber repasses federais. E o estado terá de pagar multa de R$ 10,8 milhões. Segundo o novo governador, Zeca do PT violou a Lei de Responsabilidade Fiscal porque sequer deixou caixa para pagar o salário dos servidores relativo a dezembro.

Puccinelli quer obter uma arrecadação de R$ 80 milhões de impostos na primeira semana de janeiro. E já adianta que não pagará benefícios atrasados deixados por Zeca. Para verificar irregularidades, determinou uma auditoria na lista de beneficiados pelos programas governamentais. Zeca explica, mas não se justifica. Em nota que divulgou no final de 2006, disse que os casos de febre aftosa afetaram o agronegócio e prejudicaram a arrecadação. Segundo ele, teria de optar entre quitar a parcela da dívida com a União ou o 13.º salário do funcionalismo. ?Fizemos a última opção?, assevera.

Se verdade, explica, mas não justifica, porque o cumprimento dos compromissos financeiros dos estados para com a União são obrigação legal indescartável e seu não-cumprimento penaliza Mato Grosso do Sul e não seu ex-governador. Tanto mais porque Zeca do PT foi um dos governadores que, poucos dias antes de deixar o cargo, usou a maioria política de que dispunha na Assembléia Legislativa para reviver a aposentadoria dos ex-governadores. Como ex, vai ganhar mais de R$ 24.000,00 mensais por toda a vida. Outros ex-governadores fizeram o mesmo, montando para si mesmos nababescas e vitalícias aposentadorias. E pensar que 16 milhões de aposentados e pensionistas do INSS trabalham em média três décadas e meia para ganhar um mísero salário mínimo por mês.

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