Números surpreendentes

O Brasil vende bem para os Estados Unidos. No primeiro semestre, o valor negociado com aquele mercado aumentou 23% comparado ao mesmo período do ano passado. Entre janeiro e junho os embarques com destino aos portos norte-americanos fecharam em US$ 10,7 bilhões.

No pacote de exportações brasileiras para Tio Sam estão aviões, ferro fundido e semimanufaturados de aço. Deve-se ressaltar, contudo, que esse excelente desempenho não decorreu da política de estímulo do governo brasileiro para o comércio exterior, mas da expansão da economia interna nos Estados Unidos.

Os analistas concluíram que apesar do aumento da taxa de juros determinada pelo Federal Reserve, o banco central americano, do constante crescimento dos déficits fiscal e comercial, a economia não apresenta sinais de debilidade. Portanto, o fator de aumento das vendas brasileiras para os Estados Unidos está fundado na pujança econômica do referido país.

A mesma apreciação se aplica também à China, que compra muito do Brasil. Na verdade, o comércio exterior brasileiro tem apresentado números surpreendentes em seu retrospecto e acumulado divisas, mesmo não atuando com táticas agressivas para conquistar novos mercados e ampliar as remessas para os habituais compradores.

Esse panorama favorável pode sofrer mudança brusca em 2006, segundo a Associação Brasileira de Comércio Exterior, face ao esgotamento da capacidade produtiva da indústria brasileira. A advertência é do vice-presidente da entidade, José Augusto de Castro.

Juros altos, investimentos em queda e desvalorização do dólar são os entraves no caminho da produção industrial. O Itamaraty, entretanto, admite que o Brasil está certo ao recuar das negociações em torno da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), por não dispor de nenhuma contrapartida no setor agrícola.

A perda do mercado americano poderá ser compensada pela diversificação de exportações para a Ásia, América Latina e África. O problema não será equacionado somente pelos bons propósitos da diplomacia, porque tem raízes profundas no comportamento econômico.

Sobram empecilhos no caminho da indústria voltada para as exportações, e o estreitamento de relações com clientes do porte dos Estados Unidos decerto vai dificultar em grau acentuado a repetição do desempenho atual.

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