Nomenclatura maleável

O uso do cachimbo faz a boca torta, reza a sabedoria de nossos avós. Mas não se esperava tanta maleabilidade de parte da nomenclatura petista desembarcada na máquina federal. Não só aí, mas nas demais oportunidades de aumento da renda mensal, no rosário de cargos remunerados em conselhos de estatais e empresas privatizadas, das quais os fundos de pensão tornaram-se acionistas.

Não é novidade o emprego do artifício para melhorar o salário dos amigos e, tampouco, instrumento só agora incluído no arsenal protecionista aplicado aos mais chegados do núcleo de poder.

Governantes de épocas recentes ou nem tanto valeram-se da prerrogativa de indicar apadrinhados para a composição de conselhos fiscais e administrativos, com direito ao recebimento de bônus financeiro de causar inveja.

Mesmo que a benemerência não se enquadre no rol dos interditos à boa administração, é de direito apreciá-la sob o prisma da justa indignação, especialmente em se tratando dos cidadãos privados de serviços públicos de qualidade, pelos quais pagaram com enorme sacrifício.

Essa é mais uma mazela que o PT deverá expiar em sua via dolorosa pela reconquista do respeito popular. Afinal, o partido jamais admitiu qualquer desvio ou uso duvidoso do dinheiro público, sobretudo quando detectados em seara alheia.

Hoje o PT mostra uma face até então desconhecida da opinião pública, pois a cada momento se desvenda uma prática outrora condenada nos demais partidos. Figuras conhecidas no universo sindical, especialmente da CUT, com inserção notória nos órgãos dirigentes do partido, desde a posse de Lula, além dos empregos no governo, passaram a ter assento nos conselhos das estatais e/ou empresas privatizadas.

Exemplo aberrante da facilidade foi dado por Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil e ex-presidente do conselho deliberativo da Previ (fundo de pensão dos funcionários da instituição), indicado para o conselho de administração da ex-estatal Embraer.

Ao todo, o elegante bancário embolsava R$ 40 mil mensais (R$ 18 mil da Embraer), mas, mesmo assim, defendeu-se, servia de chacota para os companheiros que ganhavam mais.

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