Noite dos punhais

A longa noite dos punhais. Não fosse pela odiosa e extravagante analogia, poder-se-ia afirmar que o governo Luiz Inácio Lula da Silva sofreu nos primeiros momentos da manhã de ontem sua primeira e amarga derrota no âmbito da Câmara dos Deputados, não conseguindo eleger o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, candidato do PT à presidência da Casa.

A perspectiva de derrota desenhou-se no primeiro turno, quando Greenhalgh recebeu apenas 207 votos, frustrando os cálculos governistas que apostavam num mínimo de 260 votos. A palavra mais pronunciada pelos deputados alinhados ao presidente da República foi traição, embora seja difícil esconder o impacto negativo do deficiente sistema de articulação política operado pelo governo no Congresso Nacional.

Como se esperava, no segundo turno ajuntaram-se as forças hostis ao governo, e o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) obteve o voto de 300 dos 498 deputados presentes. Uma vitória que impõe pesado ônus ao governo pela geração de dois fatos inéditos: pela primeira vez um candidato avulso é eleito presidente da Câmara e a maior bancada da Casa não consegue eleger o presidente.

A origem desse fato prejudicial para o PT, e para a própria aliança de sustentação do governo, está na dissidência representada pela candidatura independente do deputado mineiro Virgílio Guimarães. Na tradição da Câmara sempre houve candidatos avulsos, mas nunca um avulso do mesmo partido concorreu com a indicação da bancada. Talvez tenha sido este o argumento decisivo para fortalecer a presunção de vitória da linha divergente.

Manobras de última hora – ministros e ex-candidatos à presidência povoando os corredores e gabinetes – deram ao Congresso um autêntico clima de eleição de clube varzeano, correndo a cabala no melhor estilo dos currais sertanejos. O ex-governador Garotinho chegou ao cúmulo de filiar ao PMDB um magote de deputados de outros partidos para votar contra o candidato governista. O mesmo ocorreu em outras bancadas.

Esta Lula perdeu. Resta-lhe juntar os cacos e remendar o que for possível, inclusive digerir a idéia pouco agradável de ter na pessoa do deputado Severino Cavalcanti seu primeiro substituto, quando do impedimento do vice-presidente José Alencar.

Voltaremos aos dias de Mombaça

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