Nem poderia ser diferente

A primeira conseqüência política palpável da Operação Navalha acaba de acontecer. Silas Rondeau foi extirpado do Ministério de Minas e Energia. Foi obrigado a pedir exoneração do cargo por imposição de seu próprio partido, o PMDB, ou mais particularmente de seus padrinhos, os senadores José Sarney e Renan Calheiros, este presidente do Senado e ambos fiéis aliados do presidente Lula. Rondeau está sendo acusado pela Polícia Federal de haver recebido jabaculê de R$ 100 mil da construtora baiana Gautama, organizadora da máfia que vinha atuando nos governos federal, estaduais e municipais e em empresas estatais para distribuir propinas e pegar de troco bilhões de dinheiro do povo. Recursos que eram destinados a serviços e obras de toda sorte, inclusive os que figuram no badalado PAC – Plano de Aceleração do Crescimento. A Polícia Federal, nos outros casos já tornados públicos, mas principalmente neste que envolveu o ministro, foi a detalhes. Filmou e fotografou o transporte do dinheiro, sua passagem de mão em mão nos arredores do aeroporto de Brasília, a entrega a uma diretora da Gautama, sua entrada por porta privativa de autoridades na sede do ministério, fazendo contato com o assessor do ministro, Ivo Almeida, sua entrada no espaço reservado ao gabinete do agora ex-ministro Rondeau e seus principais assessores e a saída já sem a bolsa do dinheiro. Isso tudo foi reforçado, ainda, com gravações de telefonemas que tornam indubitável a corrupção ativa e passiva. O engenheiro maranhense, como não poderia deixar de ser, jura de pés juntos que é inocente e, em nome da Justiça e de Deus, promete prová-lo. Vamos esperar para ver. A Justiça já não se mostra nenhuma vestal e Deus tem todos os dias o seu santo nome pronunciado em vão.

Dissemos que o ministro de Minas e Energia foi exonerado e não demitido. Isso porque o ato foi de exoneração. Demissão significaria uma espécie de punição e Lula não costuma ter atitudes enérgicas. Aliás, nas crises do seu primeiro governo, quando era impossível manter certos auxiliares, enterrados até o pescoço em maracutaias, também exonerava e não demitia. Não punia, mas conformava-se, a contragosto, com as imposições das circunstâncias. Hoje o ambiente em Brasília não é de constrangimento, o que seria de se esperar num país que tivesse quadros políticos com vergonha na cara. No Congresso, onde existem muitos parlamentares sob suspeita, alguns poucos procuram a formação de uma CPI. Antes, quando outros escândalos estouraram, a turma do governo sempre foi contra as CPIs. Agora, como se trata de um escândalo que envolve situacionistas e oposicionistas, ou seja, ladroagem suprapartidária, de um lado e de outro perguntam com a maior cara-de-pau: ?Mas para que CPI??. A turma está com medo de que, de repente, seus próprios nomes apareçam com a revelação de pecadilhos e pecadões e acabem figurando entre os desonestos. Uma maracutaiazinha sempre é perdoável, mas é de bom aviso mantê-la escondida…

Já no âmbito das forças situacionistas, a preocupação não é com a fritura do ministro de Minas e Energia, que o próprio Lula trata como dispensável ao dizer que não tem pressa em sua substituição, pois a pasta está funcionando muito bem sem ele e sem titular. Comandam o ministério os técnicos Nelson José Hubner Moreira e Maurício Tolmasquin, indicados pela superministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, aliás uma das raras reconhecidas competências deste governo. Rondeau, para Lula, não faz falta, o que deixa a gente pensando: ?Para que ministro, e ainda muito provavelmente ladrão??. A preocupação é do próprio PMDB e, em particular, de Sarney e Calheiros, que querem nomear também o futuro titular da pasta. Ninguém quer abrir mão de um cargo que movimenta tanto dinheiro e pode desviá-lo para bolsos diversos, inclusive os próprios.

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