Na feira, artesanato é sinônimo de geração de emprego e renda

Há 32 anos, quando aprendeu a fazer roupinhas de tricô para os três filhos, Sandra Solis Cunha, hoje com 54 anos, não imaginava que o passatempo se tornaria um trabalho que ajuda a manter toda a família. Hoje, Sandra expõe e vende seus produtos na Feira de Artesanato do Parque São Lourenço, uma das 23 feiras são fonte de trabalho e renda para centenas de pessoas na cidade.

Além do tricô, Sandra faz caixas e enfeites em madeira com motivos country, técnica que aprendeu há cinco anos. O trabalho conta com a ajuda do marido, Júlio Manoel Cunha, 59 anos, que é aposentado. Apesar de trabalhar num escritório de advocacia e fazer cursinho, Juliana, 20 anos, a filha mais nova de Sandra, também colabora na produção das peças de madeira.

"Antes eu fazia os trabalhos para enfeitar a minha própria casa e para presentear ou vender aos amigos. Certa vez, uma amiga comentou que a atividade poderia se transformar em uma fonte de renda. Como abrir uma loja é mais difícil, resolvi ir para as feiras de bairro", conta.

Sandra diz que as feiras têm altos e baixos mas que elas funcionam como um contato. "Na feira tenho a oportunidade de conhecer muitas pessoas. Elas podem não comprar no momento, mas acabam fazendo encomendas", conta. Enxovais e lembranças para bebês são os produtos mais procurados.

Com este trabalho, ela ganha entre R$ 300,00 e R$ 500,00 por mês, dinheiro que ajuda nas despesas da casa. O ganho aumenta, conta, nas feiras especiais, principalmente a de Natal.

Recomeço

A experiência de 16 anos de trabalho tornaram o artesanato um negócio mais lucrativo para Francisco Comitti. Trabalhando na Feira de Arte e Artesanato da Praça Garibaldi, a Feira do Largo da Ordem, fatura entre R$ 200,00 a R$ 600,00 por domingo. Para não ficar à mercê da instabilidade do setor, Comitti vende produtos exclusivos para lojistas, o que ajuda a aumentar seu faturamento. Com as vendas na feira e nas lojas, o artesão calcula que fatura, em média, R$ 8 mil por mês.

O crescimento dos negócios fez com que Comitti preferisse abandonar a arquitetura, profissão que mantinha no Rio de Janeiro, cidade onde morava antes de se instalar definitivamente em Curitiba. "Fiz também dois anos de Belas Artes e me identifiquei mais com a decoração e com a produção da linha de presentes", conta. Utilizando cerâmica, madeiras, cestaria, tecidos e tintas, Comitti produz cerca de 70 modelos de acessórios para copa e cozinha.

Na verdade, o artesanato foi a saída encontrada por Comitti para se restabelecer de duas falências. A primeira delas aconteceu no início da década de 90, quando o Plano Collor obrigou o fechamento de uma filial da empresa de arquitetura que Comitti mantinha em Curitiba.

Foi nesta época que o artesão criou sua linha de copa e cozinha. A criatividade fez com que os produtos de Comitti fossem vendidos para a Mesbla, uma das grande lojas de departamento existentes na cidade. A produção, cada vez mais crescente, fez com que o artesão tivesse a ajuda de 48 funcionários.

Mas a falência da Mesbla, em 1995, obrigou Comitti a mais uma mudança. Nas negociações, conseguiu recuperar algumas máquinas que o ajudaram em um novo recomeço. Acabou por se inscrever na Feira do Largo da Ordem. "A feira foi vital na minha vida, porque nela pude mostrar o meu trabalho", conta.

Comitti acredita que as feiras especiais foram muito importantes para sua recuperação financeira. "Nesta época, entre 1996 e 1998, eu tinha ainda muitas dívidas para sanar. Havia dias de muita dificuldade, mas as coisas começaram a fluir e hoje sou feliz com o que faço", conta.

Arte popular

Curitiba possui 23 feiras de artesanato. A maior, a Feira de Arte e Artesanato da Praça Garibaldi, está instalada no Largo da Ordem, onde trabalham 1.080 expositores. As demais estão instaladas em vários bairros da cidade, tornando-se um atrativo para os moradores.

O presidente do Instituto Curitiba Turismo, Luiz de Carvalho, diz que a implantação das feiras de bairro atende as reivindicações da própria comunidade. "São espaços onde os artesãos podem expor e comercializar seus produtos, o que ajuda na geração de trabalho e renda para a comunidade", diz.

Além disso, Carvalho, diz que as feiras de bairro estimulam a valorização e divulgação do artesanato feito em Curitiba e municípios vizinhos, preservando a cultura, a arte popular e o folclore.

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