Verdades e fantasias espirituais das novelas

d6a.jpgAlertamos no último encontro com o leitor a respeito do cuidado que se deve ter com relação à aceitação de idéias e conceitos transmitidos em obras de ficção como a televisão quando trata de fenômenos e experiências de ordem espiritual. Analisamos, então, a teoria das almas gêmeas abordada na novela quase homônima. Ainda que de maneira indireta, outros temas afetos à área, merecem comentários.

A reencarnação, por exemplo. Vamos a alguns detalhes mostrados. O espírito da personagem assassinada tem a visão do corpo carnal abandonado. Nada de surpreendente. A alma atua fora do corpo, não só depois da morte, como durante a vida física, no sono fisiológico e nos chamados desdobramentos anímicos e/ou mediúnicos ou nos estados comatosos conforme relatamos aqui ao falar das Experiências de Quase-Morte. Tudo graças às propriedades do corpo astral, energético ou perispírito.

Depois, simbolizado por uma estrela cadente, dirige-se ao casebre onde renascerá no corpo de Serena. Aí o primeiro problema. Se a morte da primeira se deu antes do início da gravidez, tudo bem. Caso contrário, estamos diante de uma impossibilidade científica. Um espírito não pode ocupar dois corpos físicos ao mesmo tempo.

Sabemos que nas duas pontas, o processo de desligamento (na morte) e ligação (no nascimento) não ocorre abruptamente, exceto no caso das mortes violentas o que, aliás, foi o caso. Entretanto, o estado de perturbação que se segue ao desenlace dura desde algumas horas – caso raro – até meses ou muitos anos, dependendo do grau de materialidade (hábitos cultivados em vida), conhecimentos (do mundo e vida pós-morte) e do gênero de morte. Nas violentas, o tempo exigido para que o indivíduo se recomponha do choque físico e emocional é muito maior, o que inviabiliza a busca imediata de um novo corpo.

No outro lado, o processo reencarnatório inicia no momento da concepção, mas só se completa por volta dos sete anos de idade. Durante a gestação, o espírito está ligado ao feto em formação e os laços que o prendem vão se fortalecendo, estreitando-se cada vez mais, porém ele não está ?dentro? do feto nem definitivamente preso a ele. Fato que explica a ocorrência de muitos abortos espontâneos, pela simples razão de que o espírito refuga diante das provações que o aguardam na nova vida e rompem estes laços frágeis. Pode haver problemas de intensos conflitos afetivos entre ele e a mãe ou ambos os pais. Ou então a rejeição unilateral inconsciente da mãe.

Numa hipótese muito avançada e não comprovada, seria possível imaginar o espírito de alguém em estado de coma irreversível, portanto quase totalmente desligado do corpo e já com outro ao qual, sempre a partir da concepção, poderia estar se ligando.

Parece-nos possível, mas nunca tomamos conhecimento de qualquer relato desta natureza, seja por via mediúnica, seja em regressões de memória. É verdade que no livro Vinte casos sugestivos de reencarnação do dr. Ian Stevenson, da Universidade de Virgínia EUA, há um caso em que aparentemente ocorre essa encarnação simultânea. O intervalo entre a morte de um e o nascimento de outro era inferior aos nove meses da gestação normal. Poderíamos aventar outras hipóteses para explicar esse erro de interpretação, como uma possessão em lugar de reencarnação.

Outro ponto a se destacar no enredo de ?Alma Gêmea? são os birthmarks, marcas de nascença que, segundo diversos estudos, refletem em muitos casos, as cicatrizes dos ferimentos causadores da morte no corpo anterior. No caso de Serena, foi um tiro. O indiano Hamendras Nath Banerjee, que depois emigrou para os Estados Unidos, relata em seus livros muitos casos desse tipo.

O segundo corpo que todos possuímos apresenta algumas faculdades especiais, entre elas a da plasticidade. Em função disso é maleável e facilmente impressionável a pensamentos e emoções, sujeito à atuação da própria mente que pode lhe alterar a aparência para ser reconhecido, se desencarnado, conforme era em vida, diante de um médium vidente. Mas sofre também a influência de agentes externos. Ele é a matriz ou fôrma do corpo carnal, porém, durante a existência deste, interage com ele. É capaz de absorver não só as energias equilibradas e saudáveis como as deletérias produzidas pelo espírito. Impactos intensos provocados por doenças mutiladoras também o atingem de forma particular. Um indivíduo que comete suicídio por enforcamento, enquanto não for esclarecido e tratado na dimensão espiritual, continuará sentindo os reflexos do ato, tanto pela visão como pelas sensações e, provavelmente, a lesão provocada neste corpo energético será drenada para o novo quando da próxima encarnação, somatizada na forma de mudez, disfunções da tireóide ou num futuro câncer. Se cometeu o ato tresloucado por envenenamento, seu carma se fixará no aparelho digestivo; um tiro na cabeça poderá se manifestar em retardos mentais e assim por diante. Normal, portanto, que o ferimento que vitimou precoce e inesperadamente a personalidade anterior de Serena, com toda a sua carga de emoção, ressurja no novo corpo como marcas identificáveis.

Para finalizar, outra impropriedade revelada na novela. A personagem Serena convive com a visão freqüente da imagem da encarnação anterior. Em princípio podia se tratar de lembranças espontâneas emergidas da própria memória extra-cerebral.

Mas foge à lógica vê-la ?tomada? pela outra, visto que ambas são a mesma e única individualidade, embora com vivências de duas personalidades em momentos diferentes. Em todas as reencarnações o espírito é sempre o mesmo. Mudam as personalidades como os diversos papéis representados por um único ator.

Entretanto, nas nuanças comportamentais, poderíamos estar diante de um caso de dupla-personalidade quando a normal de agora, num fenômeno puramente anímico, tem toda a sua estrutura psicológica substituída por uma já vivida em outra época. Trata-se de uma situação mórbida que compromete o bem-estar da pessoa e rotulada pela psiquiatria como enfermidade mental, embora desconsiderando a sua gênese espiritual.

Colaboração da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná. E-mail: adepr@adepr.com.br.

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