Superpopulação de cães na Vila Torres

A Vila Torres é um dos bairros de Curitiba com maior número de cães circulando pelas ruas. Com o objetivo de desenvolver ações para solucionar o problema, o departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Prefeitura e a organização não governamental Clube das Pulgas – realizou, no último mês de setembro, um censo canino na Vila. Os resultados foram divulgados na última semana.

Previamente treinados e munidos de questionários, 34 estudantes de veterinária percorreram as ruas do bairro entrevistando moradores de 323 casas, que compõem um total de cerca de 2 mil residências distribuídas em 37 quadras. Eram realizadas perguntas relativas a número de moradores, quantidade de cães e gatos, estado de saúde dos animais, castração, ações da carrocinha, maus tratos, entre outras.

Os realizadores do censo estimam que a população canina na Vila seja de 2.615 animais, sendo 58,53% machos e 41,47% fêmeas. Cerca de 66,57% das casas existentes possuem cães, havendo uma média de 1,31 cão por residência. Existe um cão para aproximadamente quatro habitantes do bairro, que representam 9.859 pessoas. ?Essa proporção é quase três vezes maior que a proporção de um para dez referida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e quase o dobro da proporção de um para sete, proposta pelo órgão para países em desenvolvimento?, informa o professor de Medicina Veterinária do Paraná e um dos responsáveis pelo censo, Alexander Welker Biondo.

Foi constatado que 90,62% das casas na Vila são cercadas, o que indica que a maioria dos cães encontrados nas ruas são semidomiciliados (possuem donos, mas têm acesso à rua). Segundo o professor, a suspeita é de que os animais saiam dos terrenos de suas casas para passeio e fazer suas necessidades, porque portões são esquecidos abertos ou para acompanhar os donos na coleta de materiais recicláveis. O bairro concentra uma grande quantidade de carroceiros. ?Soltos, os cães podem transmitir zoonoses, ser responsáveis por morde duras e mesmo vítimas de atropelamentos. Além disso, ficam sujeitos a recolhimento pelos carros da carrocinha?.

No que diz respeito à carrocinha, 73,90% dos entrevistados se disseram a favor da mesma e 61,58% afirmaram saber que os cães são levados ao CCZ. ?Em relação a esse assunto, houve dados conflitantes, pois muitas das pessoas que declararam saber que o destino dos animais pegos pela carrocinha é o CCZ não sabiam que no local os animais são sacrificados. Outro dado curioso é que quem respondeu ser a favor da carrocinha concorda que os cães de terceiros sejam recolhidos, mas não os seus?, explica Alexander.

A saúde dos cachorros encontrados na Vila no dia do censo foi considerada entre regular e boa, o que indica que – mesmo sem condições financeiras de arcar com despesas veterinárias (como consultas, vacinas e vermífugos) e não contando com serviço veterinário dentro do bairro, os moradores se preocupam com o bem-estar de seus animais. ?Nos cães observados dentro dos terrenos das casas, foram verificados problemas como pulgas, sarnas e tumores (em alguns animais de mais idade). Entre os que estavam nas ruas, foram vistos ferimentos provenientes de mordidas geradas por brigas?, comenta a estudante de veterinária Bruna Balbinotti, que participou da aplicação dos questionários.

Gatos

A população de gatos também foi estimada. De acordo com o censo, a projeção é de 369 felinos, sendo metade macho e metade fêmea. A proporção observada foi de 26,68 habitantes e de 7,08 cães para cada gato. 10,56% dos moradores têm pelo menos um gato em casa, com média de 0,18 animais por residência.

Dados servirão de base para campanha de castração

Os dados obtidos através do censo, vão servir de base para a elaboração de uma campanha de castração na Vila Torres, a exemplo do que já foi realizado, de setembro do ano passado a setembro deste ano, na Vila Osternack, também em Curitiba.

Com o objetivo de promover o controle populacional de cães, as cirurgias devem ser realizadas sem custo algum aos proprietários dos animais. ?A Prefeitura deve entrar com o transporte dos animais e fornecimento de material cirúrgico. Já os procedimentos devem ser realizados por médicos veterinários voluntários?, esclarece a presidente da organização não governamental Clube das Pulgas, Márcia Valeixo, que irá participar da organização da campanha.

A expectativa é de que as ações tenham início ainda este mês e possibilitem a realização de novecentas castrações. ?As mesmas, em paralelo com trabalhos de conscientização sobre posse responsável, devem contribuir com a redução do número de cães abandonados nas ruas de Curitiba. Para a realização da campanha, a Prefeitura municipal deve gastar cerca de R$ 35,00 por animal?, conta a coordenadora do serviço de controle de zoonoses e vetores da capital, Regina Utime. (CV)

Cavalos continuam sendo vítimas de maus tratos

Embora o trabalho realizado na Vila Torres tenha sido denominado censo canino, os participantes do mesmo também observaram as condições dos cavalos que vivem no bairro. Eles são bastante utilizados para tração, por pessoas que trabalham com a coleta de materiais recicláveis, sendo grandes vítimas de maus tratos.

Dos moradores que responderam aos questionários, mais da metade (53,67%) afirmou já ter visto pessoas agredindo animais. Como principais vítimas foram citados justamente os cavalos. ?Dos que presenciaram as agressões, a grande maioria (87,10%) diz não ter reagido diante dos maus tratos, devido principalmente ao medo de represálias. E 92,38% dos entrevistados disseram acreditar que os animais tenham inteligência e emoções?, conclui o censo.

O professor Alexander Biondo cita como maus tratos chicotadas, subalimentação, sobrecarga de trabalho – muitos dos cavalos chegam a trabalhar 24 horas sem descanso, atendendo às exigências não só dos proprietários como também de pessoas que os alugam – e excesso de peso nas carroças.

?Acreditamos que os maus tratos aos cavalos são frutos da desinformação e da carência de assistência veterinária básica. Os proprietários dos animais necessitam deles para trabalhar. Desta forma, se o cavalo estiver saudável há benefício tanto para o mesmo quanto para o dono?, afirma o professor. Durante as entrevistas, não foram citadas situações de maus tratos a cães e gatos.

Campanha

Conforme informações divulgadas pelo Departamento de Medicina Veterinária da UFPR, existem cerca de oitocentos cavalos carroceiros apenas na região urbana de Curitiba. Com o objetivo de otimizar o trabalho dos animais e de seus proprietários, a universidade, em parceria com a Prefeitura municipal, irá promover amanhã, mais uma edição do Projeto Carroceiro em Curitiba, já desenvolvido há cerca de um ano.

Durante todo o dia, os carroceiros serão convidados a levar seus cavalos ao campus de Ciências Agrárias da instituição (Rua dos Funcionários, 1540, Juvevê). No local, uma equipe de alunos e professores de veterinária estará fazendo o cadastramento dos animais e aplicando um questionário aos donos, obtendo informações sobre condições de trabalho, manejo sanitário e nutricional.

No final, os animais irão ser submetidos a exame físico geral, onde serão avaliados freqüência cardíaca, condição respiratória, temperatura, estado corporal, grau de hidratação e aspecto dos cascos. Além disso, serão coletadas amostras de sangue e fezes, para verificação de presença de parasitas intestinais.

No momento do cadastramento, também será aplicado nos cavalos uma dose de vermífugo oral, além de um banho de carrapaticida, prevenindo, entre outras doenças, a febre maculosa (transmitida pelo carrapato estrela). ?Os dados coletados serão tabulados e irão moldar o perfil dos cavalos carroceiros e de seus proprietários. Estas informações, depois de analisadas, possibilitarão a identificação dos principais pontos que devem ser trabalhados junto à comunidade de carroceiros?, informa a UFPR. (CV)

Levantamento em outras regiões

O censo realizado na Vila Torres deve ser estendido para outras regiões de Curitiba. A expectativa é de que o próximo tenha início na quarta-feira, e seja realizado no Jardim Social, um bairro considerado de maior poder aquisitivo.

?Pretendemos aplicar questionários semelhantes aos utilizados na Vila Torres em 350 casas e apartamentos do Jardim Social. Depois, vamos comparar os danos com os obtidos na Vila?, diz o professor Alexander Biondo, que novamente irá coordenar os trabalhos.

Assim como na Vila, os realizadores do censo não sabem quantos animais vivem no Jardim Social, e quais as condições dos mesmos. Dessa forma, os moradores também serão questionados a respeito de maus tratos, ações da carrocinha, castração, entre outros assuntos. (CV)

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