Reino Unido quer que UE reduza os subsídios da região

O Reino Unido apela para que a União Européia (UE) elimine as tarifas de importação de produtos agrícolas e corte seus subsídios como forma de lidar com a alta nos alimentos. O governo de Londres, em uma carta enviada a todos os governos europeus nesta segunda-feira (12), quer ainda um estudo aprofundado sobre o impacto do etanol nos preços dos alimentos. A proposta de corte de tarifas feita por Londres foi considerada como uma "vitória" da posição defendida há anos pelo Brasil nas negociações internacionais. Mas longe de um acordo, a agricultura divide a Europa em um momento que o mundo busca estratégias para lidar com a crise.

As vésperas da chegada da chanceler alemã Angela Merkel ao Brasil e ao restante da América Latina, o governo de Berlim anuncia que quer o estabelecimento de novas barreiras ao comércio agrícola entre os países exportadores de alimentos e o mercado europeu. Para Berlim, o subsídio agrícola dos países ricos não é o problema para os países em desenvolvimento, mas sim a falta de reforma política, de educação e os níveis de corrupção nessas economias mais pobres.

As declarações seguem a tendência já iniciada com a França que, diante da crise das matérias-primas (commodities), defendeu maiores subsídios aos produtores europeus e novas medidas para controlar as importações.

Para diplomatas, portanto, as reações contrárias entre o Reino Unido, França e Alemanha demonstram que a UE está dividida no que se refere ao setor agrícola e seu papel futuro no bloco.

Para o embaixador do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), Clodoaldo Hugueney, não existe possibilidade de o Itamaraty aceitar que o tema entre na Rodada Doha. "Isso está fora de questão", afirmou. Ele admite que a declaração do governo de Berlim segue a tendência de criar novas barreiras ao comércio. "Hoje, essas novas barreiras são criadas na forma de exigências ambientais e de saúde", afirmou.

Etanol

A voz que sai em defesa da liberalização vem dos ingleses, que há pelo menos dois anos insistem que a UE não pode mais gastar 48% de seu orçamento mantendo os produtores ineficientes do velho continente. Entre as sugestões, Londres quer que a UE faça uma avaliação profunda do impacto do etanol nos preços dos alimentos.

O tema vem dividindo os europeus. A UE já deixou claro que o etanol não é o responsável pela alta nos preços dos alimentos. Mas os ingleses insistem que precisam ter estudos que provem isso. Londres quer também provas de que, no futuro, o abastecimento de alimentos também não será afetado.

Os ingleses vem questionando se a meta de ter 10% da frota européia de carros movida à etanol até 2020 acabará gerando uma inflação nos preços de alimentos. Marianne Fischer Boel, espécie de super-ministra da Agricultura do bloco, nega que o impacto seja importante.

Mas a principal proposta é de que os subsídios agrícolas sejam revistos. Assim, poderiam liberar recursos para outras áreas e ainda evitar problemas para os produtores dos países em desenvolvimento.

Subsídios

Outra medida da ambiciosa proposta inglesa seria a de cortar os 43 bilhões de euros em subsídios diretos que fazem com que os preços no continente fiquem acima da média mundial.

Para Londres, a Europa precisa "fazer sua parte" para ajudar a lidar com a crise mundial. "É inaceitável que, em um momento de significativa inflação nos alimentos, a UE continue a aplicar altas tarifas a tantos produtos agrícolas", afirmou a carta.

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