Prevenir é melhor do que envelhecer

Envelhecer é um processo dinâmico, universal, progressivo e inevitável. Muitas pessoas se desesperam só de ver os primeiros cabelos brancos aparecerem. Mas essa angústia pode ir passando aos poucos, com a consciência de que se pode ter uma ótima vida na terceira idade. A velha fórmula "dieta balanceada, exercícios físicos e convívio social ativo" continua sendo a mais indicada para a conquista de um envelhecimento com saúde. A dedicação para se chegar muito bem à terceira idade deve começar desde cedo. Exercer hábitos saudáveis durante toda a vida vai causar um enorme reflexo na velhice.

A médica Ivete Berkenbrock, presidente da seção Paraná da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, explica que a Organização Mundial da Saúde (OMS) determina que saúde não é apenas um estado com ausência de doenças, mas sim de um completo bem-estar. Para isso, os lados psicológico, físico e social precisam ser constantemente estimulados. "Ao longo de toda a vida, é necessário manter uma alimentação adequada, atividade física regular e constante, os compromissos sociais, a afetividade, os relacionamentos, um bom convívio familiar", afirma.

As pessoas estão procurando entrar na terceira idade com autonomia e independência. De acordo com Ivete, está mudando aquela máxima de se preocupar com a saúde só na velhice. Tanto que os consultórios de geriatras estão recebendo pacientes cada vez mais jovens. É comum encontrar adultos de 40 anos em consultas com esses especialistas, para saber como envelhecer bem e evitar doenças. Há, inclusive, pacientes em torno dos 20 anos aparecendo nos consultórios, preocupados com um histórico familiar de doenças complicado. "A nossa preocupação é as pessoas envelhecerem com autonomia e independência, mesmo doentes. Que consiga gerir as suas vidas normalmente. E nesse ponto é essencial o apoio de familiares e amigos, pois sozinho não se consegue", comenta Ivete. Não há uma regra, mas é recomendada a primeira consulta no geriatra aos 50 anos.

Para a médica, a busca pela longevidade começa desde as visitas ao pediatra, pois uma criança sem atividade física e que come apenas alimentos à base de gorduras corre o risco de sofrer com diabetes, hipertensão e obesidade pelo resto da vida. A médica alerta a população para as fórmulas milagrosas, que prometem verdadeiras fontes de juventude. "Não tem como não envelhecer, mas há formas de retardar o envelhecimento, com condutas que vão se refletir durante toda a vida. A genética contribui em até 30% no envelhecimento saudável. O restante depende de nossas escolhas, do ambiente onde vivemos, do acesso ao saneamento, entre outros", revela Ivete.

A expectativa de vida do brasileiro é de 71 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os idosos já representam 9% da população brasileira. Ivete cita uma projeção de que este índice chegará a 17% em 2030. Os países em desenvolvimento estão experimentando agora um processo que as nações do Primeiro Mundo já conhecem: o crescente envelhecimento da população. Isso acontece graças aos avanços da medicina e exames de detecção precoce. O acesso à informação, sobre prevenção, doenças e dicas de bem-estar, também tem auxiliado muito na longevidade das pessoas e na busca por uma velhice completa e feliz.

Médico envelhece sem ficar velho

A idade não atrapalha em nada a vida do médico ginecologista Moysés Paciornik. Com seus 92 anos, ele vai todos os dias para o seu consultório. Participa de congressos. Sobe 19 andares do prédio onde mora pela escada. Pode parecer um super-herói, mas é um senhor que soube se cuidar durante toda a vida. Paciornik é autor do livro Aprenda a Envelhecer Sem Ficar Velho (Editora Juruá), baseado nos costumes dos índios caingangues. "Tenho sorte de morar em um prédio alto e ter o consultório. É preciso sempre se manter ocupado", ensina.

O livro foi escrito por Paciornik há 40 anos, para questionar a deteriorização do corpo das mulheres que moravam em comunidades civilizadas. "Pensava que era por causa do parto deitado, mas uma comunidade indígena do Paraguai também usava essa técnica. Então surgiu a teoria da cadeira. Os indígenas descansam em posição de cócoras, e não em cadeiras. Sentada na cadeira, a pessoa fica em repouso, ou seja, está enfraquecendo. Em cócoras, o organismo continua sendo forçado. Já existem pesquisadores propondo a abolição das cadeiras", afirma. De acordo com o médico, 80% dos civilizados têm ou terá dor na coluna, devido a esse repouso.

Daí surgiu um exercício simples, que Paciornik pratica todos os dias enquanto sobe as escadas de seu prédio. A chamada ginástica indígena consiste em agachar (com a cabeça inclinada para frente) e levantar (com a cabeça inclinada para trás). Deve ser feita duas vezes a cada hora. Paciornik diz que os resultados são excelentes. (JC)

Fisioterapia é importante ferramenta preventiva

Chuniti Kawamura/O Estado
Aos 92 anos, Emília (à direita) consegue andar, mesmo após ter quebrado o tornozelo há dois anos.

Além de trazer bem-estar, a alimentação balanceada e os exercícios físicos podem prevenir e também auxiliar no tratamento de doenças. Os ossos, por exemplo, se fortalecem e não são afetados pela osteoporose se houver um rotina de alimentação balanceada e exercícios. Por esses motivos, mexer o corpo é recomendado para qualquer idade.

A partir dos 40 anos, existe um declínio lento, porém progressivo, de algumas atividades do corpo. O fisioterapeuta e gerontólogo Francisco Zanardini, professor da Faculdade Dom Bosco e responsável pelo setor de gerontologia do Nosso Lar Comunidade do Idoso (instituição em Almirante Tamandaré), explica que existem reações esperadas nesta fase da vida. Podem ocorrer alterações na memória e no humor. Os idosos possuem grande tendência à depressão por aspectos emocionais e uma mudança de papel social dentro da família. Na parte motora, há uma redução nos reflexos, na marcha, na força muscular e na estatura – esta pode ser reduzida em até cinco centímetros por causa do achatamento da coluna.

Tudo isso pode ser minimizado com a manutenção do peso próximo ao ideal, um casamento estável (símbolo da capacidade de amar e ser amado), prática de exercícios físicos, abstenção do fumo, redução do consumo de álcool, participação em atividades que deixam a mente ocupada, alta escolaridade (uma doença degenerativa afeta menos o cérebro das pessoas com muitos anos de estudo), autocuidado e perseverança.

Mas os declínios não deixam de acontecer. Então a fisioterapia pode atuar como prevenção, com o objetivo de diminuir ou retardar o aparecimento de alterações associadas à idade. "A estratégia é elevar o índice de longevidade com saúde e favorecer um envelhecimento bem-sucedido. Não precisamos esperar acontecer para tomar uma atitude. Investir na prevenção é até mais barato", aponta Zanardini.

As sessões de fisioterapia são constituídas de exercícios para a manutenção da condição motora e recuperação de funções que podem estar comprometidas. Tudo é calculado conforme o paciente, suas necessidades e delimitações. O reflexo desse trabalho é a melhora da condição de se fazer atividades cotidianas.

Zanardini e seus alunos do curso de Fisioterapia atuam no Nosso Lar Comunidade do Idoso, prestando assistência às pessoas da terceira idade que estão na instituição. Um exemplo do trabalho feito é a recuperação de Emília Gonçalves dos Santos, 92 anos. Hoje, mesmo com dificuldade, ela consegue andar, depois de ter quebrado o tornozelo há dois anos. A fratura requisitou uma cirurgia. "Com o exercício, estou melhorando e andando mais. Sei que isso é bom para mim e necessário para que me sinta bem", revela. (JC)

Para dona de casa, idade não impede a felicidade

Chuniti Kawamura/O Estado
Ângela se sente "inteira".

A dona de casa Ângela Buzatto da Silva, 72 anos, recebeu a reportagem de O Estado com muita simpatia, otimismo e disposição, um comportamento incrível de uma senhora que não aparenta a idade que tem. O segredo está em um conjunto de fatores: acompanhamento médico, exercícios físicos, alimentação balanceada e fazer o que gosta.

A rotina de Ângela começa cedo, quando acorda para cuidar do marido, que está doente. Às 7h30, ela já está na unidade Ouvidor Pardinho, especializada em atendimento ao idoso, para fazer atividade física. "Da minha ginástica eu não abro mão. Faz quase oito anos que faço ginástica. Nunca vou abandoná-la, porque é uma coisa minha, da minha rotina, que ninguém interfere. Recomendo para todo mundo", conta.

Além do trabalho doméstico e dos cuidados com o marido, Ângela faz doces, salgados, cestas de café da manhã e tricô. Ela não consegue ficar desocupada por muito tempo. Ainda se preocupa com dois filhos, dois netos e três cachorros. "Nunca imaginei que chegaria na idade que estou. Meus pais morreram até os 50 anos. Nunca tive uma doença grave. Sou orgulhosa da idade que tenho e de estar assim. Faço mais coisas do que muito jovem por aí. Me acho inteira", diz Ângela, com uma gargalhada contagiante. (JC)

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