Pombos podem gerar uma arriscada convivência

Os pombos brancos são considerados pássaros símbolos da paz. Porém, independente da cor das penas e embora tenham a simpatia da grande maioria das pessoas, os animais não são tão inofensivos quanto parecem. Apesar de apresentarem um temperamento bastante dócil, em determinadas situações são capazes de transmitir uma série de doenças aos seres humanos. 

Segundo o biólogo Juliano Ribeiro, que integra a coordenação de controle de zoonoses da Prefeitura Municipal de Curitiba, o grande risco está nas fezes dos pombos. Em ambientes fechados (como forros de residências), em condições de temperatura e umidade constantes, nelas pode se desenvolver uma série de fungos prejudiciais à saúde das pessoas.

?Quando os pombos habitam residências e as pessoas vão limpar os forros de suas casas, levantam poeira e acabam inalando esporos de fungos. Por isso, no momento de fazer a limpeza de imóveis onde as aves freqüentam, é importante que as pessoas usem um pano ou máscara no rosto e luvas. Além disso, para combater as doenças, é possível jogar água sanitária?, explica.

Os dois principais fungos capazes de se desenvolver nas fezes dos pássaros são o Cryptococcus sp. e o Histoplasma capsulatum. O primeiro é causador da criptococose, doença que tem como sintomas principais febre, fraqueza, dor no peito, rigidez de nuca, dor de cabeça, náuseas e vômitos, sudorese noturna, confusão mental e alterações de visão. Já o segundo é responsável pela histoplasmose, enfermidade que também tem sintomas variados, mas que ataca principalmente o pulmão. ?Nas fezes também é capaz de se desenvolver a bactéria salmonella, causadora da doença infecciosa salmonelose. Além disso, ácaros que vivem nas penas dos pombos são capazes de ocasionar alergias de pele?, alerta o biólogo.

Nos últimos anos, a superpopulação de pombos é caracterizada como um problema em diversas cidades do mundo. Os pássaros se adaptam facilmente ao meio urbano, encontrando boas condições de sobrevivência, como água, comida e abrigo. Originários de áreas de rochedos, gostam justamente de fazer ninhos em edificações. Para evitar que eles se instalem nos imóveis, Juliano diz que é possível estender fios de nylon ou arame para que os animais não possam se empoleirar. Desta forma, eles acabam não tendo como construir ninhos. Em casas especializadas de combate a pragas, também é possível adquirir espícolas metálicas, objetos que parecem agulhas, com a mesma finalidade.

Soltos nas ruas, os pombos, assim como suas fezes, não representam perigo à população. Entretanto, os pássaros não devem ser alimentados pelos transeuntes. Além disso, para combater a superpopulação das aves, as pessoas devem evitar deixar expostos água e alimentos, o que também pode atrair ratos. ?Os cuidados com a higiene são muito importantes para evitar problemas.?

Londrina já pleiteou abate maciço

Prefeitura de Londrina/Divulgação

Secretário Gerson da Silva.

No Paraná, diversas cidades enfrentam problemas devido à superpopulação de pombos. Uma delas é Londrina, na região norte. No local, a situação é tão preocupante que, no ano passado, a administração municipal chegou a pensar em abater 50 mil pássaros como forma de amenização. O abate não aconteceu por falta de autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e devido a polêmicas geradas entre a população.

De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Gerson da Silva, os pombos que habitam Londrina são pombos silvestres, popularmente conhecidos como amargozinhas (Zenaida auriculata). Eles vivem nos campos, mas utilizam a cidade como dormitório, sendo vistos principalmente nos finais de tarde.

?Os pássaros começaram a se instalar na cidade devido ao desequilíbrio gerado pelos desmatamentos que ocorreram na região de Londrina, onde há muita cultura de soja e cana. Os pombos se reproduzem de forma rápida, encontram abundância de alimento e não possuem predadores naturais. Seus excrementos sujam bastante a cidade, sendo que a limpeza, principalmente da região central, deve ser constante?, afirma.

O número exato de pombos que vivem em Londrina é desconhecido. Porém, um estudo realizado no ano de 2005, por estudantes do curso de Biologia do Instituto Filadélfia de Ensino Superior, indicou que, em apenas 21 ruas do centro da cidade, existiam cerca de 170 mil aves. ?Acreditamos que, atualmente, este número já seja bem superior e vá continuar aumentando caso uma solução de controle populacional não seja encontrada.?

Além da sujeira, as fezes dos pombos já podem ter comprometido a saúde de pessoas na região. Recentemente, em Cambé, município vizinho a Londrina, a morte de um homem idoso foi atribuída à doença criptococose. O secretário, entretanto, diz que a causa do óbito não chegou a ser oficialmente comprovada. (CV)

Prefeitura queria ?câmara de gás?

Em Campo Mourão, na região centro-oeste do Estado, medidas de controle populacional de pombos também começam a ser pensadas. Assim como em Londrina, no local as aves se deslocaram para o meio urbano em função da intensa degradação ambiental, gerando uma série de transtornos.

?Os pombos incomodam um pouco, mas a culpa por eles estarem aqui (em meio à área urbana) é nossa. Somos nós, os seres humanos, que provocamos os desmatamentos. Acho que, além de encontrar medidas para controle das aves, para resolver definitivamente a situação temos que refletir sobre questões ambientais?, diz o coordenador-geral do município, Paulo Cesar Stanziola.

Recentemente, na cidade, um projeto da Câmara de Vereadores chegou a propor o abate de pombos em câmaras de gás carbônico, o que gerou uma série de polêmicas. Os primeiros a se manifestar contra a proposta foram integrantes da organização não governamental Sociedade Protetora dos Animais.

?O projeto ainda não foi analisado. Porém, acredito que ele seja inviável?, declara Paulo Cesar. ?Estudantes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) estão estudando um tipo de ração para inibir a reprodução dos pombos. A ração ainda está sendo pensada, mas acho que poderia ser uma solução.?

Na cidade, também já se estudou a destruição de ninhos presentes em topos de árvores. Assim como acontece em Londrina, a administração municipal de Campo Mourão desconhece com exatidão a quantidade de pombos que habitam a cidade. (CV)

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