Permissão para eutanásia de animais gera polêmica

Muitos proprietários de pets enfrentam, em algum momento da vida de seus bichinhos, uma decisão difícil e delicada: deixar que o animal continue vivendo com algum tipo de doença grave que lhe comprometa a qualidade de vida ou acabar com o sofrimento dele através de eutanásia. 

No Brasil, a indução da morte de seres humanos que se encontram em estado terminal é proibida. Porém, o mesmo não acontece com os animais. Dentro da medicina veterinária, a eutanásia é regulamentada através da Resolução 714, de 20 de junho de 2002, lançada pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária.

?A resolução normatiza a eutanásia, determinando produtos e métodos a serem utilizados. Desta forma, o procedimento pode ser realizado, mas é obrigatório que para isso as determinações presentes no documento do Conselho Federal sejam cumpridas?, revela o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR), Masaru Sugai.

Segundo a resolução, a eutanásia deve ser encarada como último recurso para acabar com a dor e o sofrimento de um animal. Antes de realizá-la, o médico veterinário deve disponibilizar todos os métodos possíveis para fazer com que o paciente se recupere, como cirurgias, procedimentos clínicos e mesmo homeopatia e acupuntura.

?Se nada der resultado e o animal não tiver condições de se recuperar, levando uma vida dotada de muito sofrimento e agonia, a possibilidade de eutanásia deve ser cogitada. Porém, não cabe ao veterinário a decisão de abreviar a vida do bicho. O profissional deve apenas sugerir o método aos proprietários. Cabe a eles decidir o que deve ou não ser feito?, diz Masaru.

Após o consentimento expresso dos donos, deve ser decidido o método a ser utilizado. Existem métodos diferentes para cada espécie de animais. Para cães e gatos, por exemplo, o mais comum é que seja usada injeção com algum produto letal, que provoque parada cardíaca ou respiratória. Porém, antes da aplicação, o paciente precisa ser anestesiado ou receber tranqüilizantes. Os produtos evitam que ele sinta dor.

?Optar pela eutanásia não é fácil para os proprietários do animal nem para os médicos veterinários. Não gostamos de realizar o procedimento, pois somos preparados para salvar vidas e não para matar. Porém, o animal deve ser sempre colocado em primeiro lugar e é importante avaliar se vale a pena ou não prolongar seu sofrimento em casos extremos. Tudo deve ser feito após muita argumentação técnica e científica?, comenta Masaru.

Assim como acontece quando se fala em eutanásia dentro da medicina humana, o método, apesar de permitido, também gera polêmicas dentro da veterinária. Alguns defensores dos direitos dos animais ainda condenam o procedimento. Masaru diz que, na maioria das vezes, estas pessoas não enxergam a questão do ponto de vista da bioética, da ética e da razão, levando em conta apenas o ponto de vista emocional.

Sacrifício: em caso de risco

O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR), Masaru Sugai, esclarece que a eutanásia é totalmente diferente do chamado sacrifício sanitário. Este é realizado quando há iminência de risco que afete um determinado rebanho ou a saúde pública.

?O sacrifício sanitário visa estabelecer o corte de alguma doença infecto-contagiosa, evitando que a mesma se alastre. É uma medida adotada no mundo inteiro e que recentemente aconteceu no Paraná, em função da ameaça de febre aftosa (doença considerada altamente contagiosa, que afeta todos os animais de casco fendido)?, explica.

Geralmente, quando é decretado o sacrifício sanitário, todo um rebanho deve ser sacrificado. Porém, de acordo com o presidente do CRMV-PR, também devem ser tomadas medidas para evitar o sofrimento dos animais. O ideal é que, antes de serem mortos, os bichos recebam tranqüilizantes ou anestésicos.

Cadeiras ortopédicas são opção

Foto: Lucimar do Carmo

Equipamento é indicado para  submetidos a cirurgias de membros inferiores que não tiveram melhora.

As cadeiras de rodas ortopédicas especiais para cães são uma alternativa à eutanásia de animais que perdem a mobilidade das patas traseiras, ficando impedidos de caminhar normalmente. Até pouco tempo atrás, cachorros que eram vítimas de danos irreparáveis em função de acidentes e problemas de coluna eram geralmente sacrificados. Hoje, eles costumam se adaptar bem às cadeirinhas e viver os anos que lhes restam com bastante qualidade.

O equipamento – apontado por veterinários como recurso a animais que foram submetidos a cirurgias de membros inferiores e não obtiveram melhoria – é confeccionado sob medida. Ele é feito conforme o tamanho do cão (altura do corpo, altura do chão até o tórax, medida entre as pernas e largura) e as características de cada raça.

?A cadeira é como uma roupinha. Ela é confeccionada de forma personalizada, sendo que o equipamento que serve para um animal não serve para outro?, comenta o responsável pela Dog Care, única fabricante em Curitiba, Gildo Cougo.

Na Dog Care, as cadeiras são confeccionadas de forma artesanal. Para animais de pequeno porte, são utilizadas rodas de carrinhos de bebê. Já para cachorros maiores, são usadas rodas de bicicleta. Além disso, a estrutura é de alumínio e os parafusos colocados são de aço inoxidável (em função da urina dos bichos). O preço das cadeirinhas varia conforme o tamanho do animal, de R$ 190,00 a R$ 380,00. Depois que o equipamento fica pronto, não deve ser utilizado em tempo integral pelo animal. Após o período de adaptação, o ideal é que o cão passe a noite e algum período do dia fora do aparelho.

Raças

Algumas raças têm mais propensão a terem problemas de coluna (que podem levar à paralisia das patas traseiras) em função de deficiências no disco intervertebral, como poodle, dachshund (?lingüiça?), pequinês e lhasa apso. Estes animais geralmente têm a parte dorsal do corpo mais fraca e, mesmo diante de uma pequena queda, podem começar a apresentar problemas de locomoção.

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