Patriota duvida de represália líbia contra o Brasil

O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, não acredita em hipótese de represália de parte de um novo governo líbio contra o Brasil, que manteve relação estreita com o regime de Muamar Kadafi e questiona a atuação de tropas aliadas em território líbio. “O Brasil se distinguiu ao longo de todo esse processo com uma preocupação muito grande de se posicionar do lado da população líbia. A preocupação que manifestamos era com a utilização de uma autorização do Conselho de Segurança de proteção à população civil que gerasse violência adicional à violência”, argumentou o ministro das Relações Exteriores.

Ao ser indagado sobre a ideia do governo francês de fazer uma reunião de “amigos da Líbia” para discutir o pós-Kadafi, o chanceler respondeu que “o Brasil se considera mais amigo da Líbia que muitos outros países”. “Não utilizamos armas contra qualquer líbio em momento algum”, disse ele em referência às tropas aliadas (Estados Unidos, Reino Unido e França) enviadas à Líbia para conter a rebelião que matou centenas de civis nos últimos meses.

“No parágrafo operativo que autorizou a proteção civil falava-se em cessar-fogo, e na nossa visão, esforços adicionais deveriam ter sido usados para negociar o cessar-fogo há muito tempo atrás”, criticou Patriota. “O que nós queríamos era o fim da violência (…) Então deploramos, lamentamos e condenamos a violência na Líbia, que afetou a população civil de forma indiscriminada e continua a afetar”.

O chanceler brasileiro afirmou que não há uma pacificação do país e que “o Brasil se posicionou do lado das Nações Unidas, do lado da legalidade, do respeito às decisões do Conselho de Segurança, na letra e no espírito com que foram adotadas para proteção da sociedade civil, e não para colocar regime “A”, “B” ou “C” no poder”. Ele reafirmou que o Brasil manteve contato com os rebeldes em Benghazi, e que está acompanhando de perto a situação para ver como evolui.

Referindo-se a editorial de um jornal brasileiro, o chanceler chamou a atenção para a importância de não se cometer, na Líbia, erros que foram cometidos em outros lugares como Iraque. “Por mais frágeis que sejam as instituições na Líbia, desmantelar completamente a burocracia existente provoca o risco de aumentar a imprevisibilidade, a insegurança, em uma fase que se inicia e que será muito delicada porque existem muitas armas no país, inclusive armas de destruição em massa, armas químicas”, afirmou.

Patriota disse que não tem conhecimento sobre pedido de forças de paz junto ao Conselho de Segurança para a Líbia, mas não excluiu a hipótese de que tenha sido feito. Ele indicou que “existe uma reflexão no secretariado das Nações Unidas sobre o pós-conflito que vai nesta direção, de como contribuir para uma estabilização, fim da violência, monitoramento de segurança…”. Indagado sobre se o Brasil enviaria forças de paz à Líbia, o chanceler respondeu que “ainda não dá para refletir sobre isso sem saber exatamente quais são as condições” do cessar-fogo.

O chanceler também queixou-se da imprensa. “Às vezes, sai equivocadamente na imprensa de que o Brasil não se associou ou não foi favorável às sanções contra a Líbia. Pelo contrário, o Brasil desde o começo do governo apoiamos as sanções”, defendeu-se. O chanceler esclareceu ainda que não havia sanções durante o governo Lula, as sanções foram consideradas nesse ano, após Kadafi reprimir a população de civis desarmados.

Patriota disse que tanto no Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), quanto na Unasul (12 países da América do Sul), há a percepção de que não basta o governo Kadafi deixar Tripoli para a situação se estabilizar automaticamente. “Será necessário que o futuro governo de transição se preocupe em reconstruir a união nacional e apaziguar a situação interna”, disse Patriota.

O ministro defendeu “a preservação das responsabilidades do Conselho de Segurança na definição de estratégias para a promoção da paz e segurança internacionais”, em clara alusão à iniciativa de Nicolas Sarkozy de convocar uma conferência para discutir o pós-conflito. O chanceler comparou ainda a situação da Líbia com a Síria. No primeiro caso, disse ele, houve unanimidade da ONU para impor sanções a Kadafi, “inclusive com o voto do Brasil”. Já em relação à Síria não existe consenso sobre sanções e embargos de armas”.

“Existem visões que ainda são bastante divergentes no Conselho de Segurança. China e Rússia, por exemplo, não estão participando das discussões no Conselho de Segurança sobre a Síria, nesse momento, o que reflete uma polarização do debate, uma dificuldade grande de se chegar a uma decisão”, argumentou.

Patriota manifestou-se decepcionado com o governo sírio, que não deu uma resposta satisfatória em relação ao pedido internacional de “cessar a violência, acabar com as mortes e adotar, aceleradamente, um programa de reformas de abrir o país aos jornalistas porque temos dificuldade de saber o que está acontecendo”.

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