Para que servem as regressões de memória (2.ª parte)

d6x.jpgO principal argumento de certos setores espíritas contra a TVP é que o esquecimento é providência de Deus para evitar perturbações no relacionamento das pessoas no palco da vida atual. Poderia afetar a estabilidade emocional e o convívio com os outros indivíduos por vergonha de atos delituosos, reacender ódios, dificultar os reajustes familiares. Ou então, de outro lado, exacerbar o orgulho quando o paciente tenha sido famoso ou exercido o poder terreno. Ou ainda despertar antigos vícios, ora adormecidos.

Mas estamos tratando de profissionais responsáveis e éticos que diagnosticam competentemente quando a terapia pode ou não ser aplicada. Além do mais, dispondo-se de um recurso capaz de aliviar o sofrimento de alguém, abrindo mão dele não estamos faltando com a tão decantada caridade apregoada por todos os espíritas? Deixaremos que afundem as economias familiares peregrinando inutilmente consultórios médicos e intoxicando-se com antidepressivos e percam o sabor pela vida nos divãs dos psicanalistas tradicionais? Qual o maior grau esperado de perturbação: o de um já instalado e manifesto sem tratamento, sufocado nos recônditos da mente espiritual ou a oscilação eventual causada por supostas lembranças desequilibrantes?

A Dra. Júlia Prieto Peres, que é espírita, cita a propósito esclarecimentos dos Espíritos onde se afirma que a alma humana, ao reencarnar, perde as lembranças anteriores por razões já explicitadas como se um véu as ocultasse. Às vezes, há uma vaga consciência de fatos e que estes podem mesmo ser revelados em certas circunstâncias. Sobre isto, diz ela que em 7000 casos atendidos surgiram somente três personalidades históricas, contrariando a tese de que em tais sessões abundam os napoleões, franciscos de assis e joanas d?arc e não aparecem os joões e marias.

Mas voltemos a TVP. Pode-se atingir as lembranças das vidas passadas, excetuadas as que emergem espontaneamente, de duas maneiras: através da hipnose ou da livre associação de idéias. Este último método tem sido preferido pela maioria dos terapeutas por não impor constrangimentos ao paciente. Ele fica com mais liberdade para seguir regredindo ou não, bem como o quanto deseja revelar. Evita-se que recordações carregadas de emoções muito intensas causem choques violentos na personalidade atual. Com a associação de idéias, o próprio paciente regula e controla melhor os limites do processo regressivo.

Normalmente o tratamento é constituído de 20 ou 25 sessões com duas horas de duração sendo que a brasileira Júlia Prieto Peres usa as cinco primeiras para a chamada anamnese ou de avaliação e preparação para as regressões que se darão nas 10 seguintes. As últimas 10 são integrativas quando, paralelamente às reminiscências do passado, são trabalhadas e induzidas as redecisões corretivas, as racionalizações das causas do problema atual, substituindo o desconforto pelos efeitos da atitude errada do passado por idéias de reconstrução, equilíbrio e saúde. Alguns pacientes não regridem nunca. Entende a Dra. Júlia que nestes casos o resgate cármico ainda não terminou e de momento nada pode ser feito a não ser o atendimento fraterno, a orientação evangélica e, conforme o caso, medicação para minorar os efeitos, dependendo da gravidade do quadro.

A TRVP (Terapia Regressiva a Vivências Passadas), como prefere a Dra. Júlia, traz resultados satisfatórios para 70 a 80% dos casos de asma, úlcera gástrica, distúrbios dermatológicos, fobias, problemas interpessoais, inclusive de ordem sexual. Em contrapartida não é recomendada para gestantes, pessoas com obsessão, psicóticos ou a realização de sessões coletivas, quando a pessoa está com sono ou muito cansado. Acrescentaríamos, do ponto de vista da Doutrina Espírita, que em hipótese alguma se faria por mera curiosidade em se saber quem foi, qual posição social ou econômica ocupava e também apenas para espetáculo.

É fato, entretanto, que outros especialistas utilizam em seus consultórios métodos mistos, inclusive com atendimento a espíritos obsessores, denominados por eles de presenças ou personalidades intrusas. Como ilustração, lembramos que a jornalista Valéria Propato (revista IstoÉ, n.º 1435, ed. de 2/4/1997), ao fazer uma longa reportagem sobre o tema, decidiu ela própria submeter-se a três sessões de regressão, nas quais vivenciou em detalhes três reencarnações diferentes e sentiu-se comovida em suas crenças e mesmo nos seus valores.

Coluna da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná – adepr@adepr.com.br

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