O respeito pela natureza espiritual da flora e da fauna

Todo radicalismo é inconveniente, quando não perigoso. Defensores extremistas da natureza, às vezes, exageram. Mais comprometedor não é adotar certo sistema de idéias, mas o desejo de imposição do mesmo aos outros a qualquer custo, violando o livre arbítrio individual. Nenhum respeito às diferenças, nenhum espaço ao diálogo. Fraternidade e alteridade, palavras desconhecidas.

Verdade que, em alguns casos, até as alas mais xiitas do Greenpace, por exemplo, são obrigados a se dobrar. Ninguém, no uso do bom senso, pode apregoar a manutenção irrestrita da vida das ervas daninhas que prejudicam a lavoura, embora caiba a discussão sobre o uso excessivo dos herbicidas pelo que podem causar a outros seres vivos, inclusive o homem. Ninguém se manifesta contrário ao combate de pragas como a de gafanhotos que estão dizimando a agricultura no noroeste da África ou quanto a medidas de extermínio de ratos urbanos ou da aranha marrom.

Mas há os que radicalizam contra o consumo humano da carne animal e o uso de cobaias em laboratórios, ambos pontos polêmicos. Sonhamos o ideal, vivemos o real. Melhor se pudéssemos dispensar estes seres em tais casos. Talvez impossível no momento. Jesus afirmou que o mal estava no que saía da boca e não o que por ela entrava, ressalvada a literalidade da máxima. Chico Xavier exercitou a mediunidade por mais de 70 anos numa disciplina física, mental e moral das mais primorosas e não abria mão de um bom bife.

Há o outro lado. No homem verdadeiramente civilizado tem-se a expectativa de conduta digna e respeitosa para com os semelhantes e em relação ao meio ambiente, a casa terrestre que o abriga, inclusos os seres inferiores da criação. Para o filósofo espírita Léon Denis, o princípio inteligente ou espiritual dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem, atingindo nele sua individualidade plena. Já para o autor espiritual André Luiz, o mineral é atração, o vegetal é sensação, o animal é instinto e o homem é razão. Ou deveria ser! O instinto é uma espécie de inteligência rudimentar e os animais possuem um princípio divino que, na concepção espírita aferida por observações anímico-mediúnicas e relatos dos Mentores Espirituais, sobrevive à morte física. Tudo progride na natureza e se encadeia, “do átomo ao arcanjo”.

Palco um:

o ártico canadense. Data: março, 2004. Vítima: bebês focas. Cena: homens armados com porretes abatem cruelmente 247000 indivíduos indefesos, transformando a alvura do gelo em um horror de sangue. Um mês antes, outros 100000 haviam sido massacrados na província de Quebec. Motivo: R$100,00 pelo couro de cada animal. O resto tudo descartado.

Palco dois:

Taiji, Japão. Data: outubro, 2003. Vítima: golfinhos listrados. Cena: encurralados numa pequena enseada, 60 animais nem tentam fugir. Facas e arpões provocam morte lenta e dolorosa, literalmente num mar de sangue. Vinte e dois mil golfinhos, um dos animais mais inteligentes do planeta, são chacinados anualmente só na costa japonesa. Motivo: venda da carne aos supermercados.

Palco três:

apreensão do Ibama de várias caixas de madeira em cujo interior estão socados papagaios, araras, tucanos e outras aves, algumas de espécies ameaçadas de extinção. Noutra estrada brasileira, a Polícia Rodoviária Federal repete a operação e encontra macacos, tartarugas, peixes ornamentais da Amazônia. A imensa maioria escapa à fiscalização. Anualmente os contrabandistas retiram 38 milhões de aves, mamíferos, peixes e insetos. Remuneram com míseros trocados aos caçadores nativos pobres da região e revendem com lucros absurdos que se multiplicam até chegar aos destinatários finais na Europa e Estados Unidos. Deploráveis as condições impostas aos bichos: espaço exíguo, calor, falta de ventilação, cegueira proposital, mutilação de bicos e asas. Resultado: de cada 10 animais capturados, nove morrem no transporte.

Questão 734 de O Livro dos Espíritos: Em seu estado atual, o homem tem o direito ilimitado de destruição sobre os animais? Resposta: Esse direito é regulado pela necessidade de prover à sua nutrição e segurança. O abuso jamais foi um direito. Na seguinte, interrogados sobre a razão e conseqüências da caça, por exemplo, quando o objetivo único é o prazer de destruir sem utilidade, afirmam: Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual… violação da lei de Deus… homem… tem o livre arbítrio, destrói sem necessidade… prestará contas do abuso da liberdade… porque cede aos maus instintos…

Causa-nos tristeza e indignação os quadros infelizes que ainda teimam entre nós, mas a esperança é mais forte em saber que o Mal é a ausência do Bem, passageiro como o tempo e que caminhamos, sim, para dias de mais fraternidade e justiça. Façamos a nossa parte.

(Coluna sob responsabilidade da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná – ADE-PR. e-mail:

adepr@adepr.com.br)

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