Número de pobres causa polêmica na Argentina

Ao longo dos cinco anos em que o casal presidencial, o ex-presidente Néstor Kirchner e sua esposa e atual presidente Cristina Kirchner, está no comando da Argentina, a pobreza no país registrou uma acentuada queda, de acordo com os dados oficiais. Quando Kirchner tomou posse no dia 25 de maio de 2003, a pobreza atingia 53% dos argentinos. No início do ano passado a proporção de pobres havia caído à metade, registrando 26%. Segundo a presidente Cristina Kirchner, em 2008 o número de pobres teria baixado ainda mais, e estaria ao redor de 20%.

Mas, economistas independentes, sindicalistas e lideranças da oposição afirmam que, ao contrário do que sustenta o governo, desde 2007 a pobreza voltou a crescer, empurrada pela escalada da inflação. Os críticos do governo afirmam que Cristina, que tomou posse em dezembro passado, está empenhada em camuflar o novo aumento da pobreza. "Temos a percepção de que a pobreza está aumentando", afirmou o presidente da Pastoral Social, monsenhor Jorge Casaretto, com base em um relatório da Universidade Católica Argentina (UCA). O estudo realizado pela instituição mostra que a proporção de argentinos pobres atualmente estaria entre 28,1% e 30,6%. Incluída neste grupo, a parcela de indigentes seria de 8,7% a 10,5%.

Cristina respondeu às críticas do clero de forma indireta: "existe outro país, uma realidade diferente daquela que alguns setores querem nos convencer". O ministro do Interior, Florencio Randazzo, rebateu o relatório, afirmando que ele "é pouco sério".

Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), organismo sob intervenção do governo desde janeiro do ano passado, a proporção de pobres no país caiu de 23,4% no primeiro semestre de 2007 para 20,6% no período entre outubro do ano passado e março de 2008. Da mesma forma, segundo o Indec, a indigência também caiu, passando de 8,2% para 5,9%. De acordo com os dados do governo, há 8 milhões de pobres, dos quais 2,4 milhões seriam indigentes.

No entanto, os economistas independentes afirmam que o número "real" de pobres poderia ser 4 milhões superior ao índice "oficial". Os consultores privados sustentam que a pobreza oscilaria entre 28% e 33%. Eles sustentam que, da mesma forma que o governo está manipulando o índice de inflação desde o ano passado, agora começou a maquiar os dados sobre a pobreza.

A credibilidade do governo Cristina Kirchner sobre os índices oficiais, cada vez menor, já foi alvo de críticas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A pobreza está diretamente associada ao aumento do custo de vida especialmente a cesta básica que, segundo o governo, aumentou 3 4% nos primeiros quatro meses deste ano. Mas, segundo a consultoria Equis, o aumento da cesta básica foi de 30% só nos primeiros três meses de 2008. Segundo Ernesto Kritz, da Sociedade de Estudos Trabalhistas (SEL), a pobreza atingiria atualmente 30,3% dos argentinos. A segunda central sindical do país, a Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA), avalia que a pobreza atinge 32,6% da população e a indigência, 13%.

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