Novo líder hondurenho diz que ‘Zelaya é passado’

Eleito novo presidente de Honduras, Porfírio “Pepe” Lobo, do Partido Nacional, disse ontem que o presidente deposto, Manuel Zelaya, “já é passado”. “Estou alegre, olhando para o futuro. E vocês (insistindo) com (o tema do) Zelaya. Zelaya já é história, já é parte do passado”, afirmou Lobo, em uma entrevista na qual voltou a dizer que procurará o diálogo com o Brasil.

Lobo prometeu formar um governo de união. Sua trajetória, porém, é repleta de ambiguidade. Na eleição de 2005, ele foi derrotado por Zelaya após defender a “mão firme” contra a delinquência – incluindo a pena de morte. Segundo analistas, os eleitores se assustaram justamente com sua falta de moderação. De uma família de fazendeiros do Departamento de Olancho – o mesmo de Zelaya -, ele flertou com o comunismo na juventude e chegou a estudar em Moscou. Ao entrar para a política, optou pela direita.

Por causa desse passado, uma das estratégias do candidato Elvin Santos, do Partido Liberal (de Zelaya e do presidente de facto, Roberto Micheletti) foi tentar vincular o nome de Lobo ao do presidente deposto e ao de Hugo Chávez. Lobo, afinal, nunca disse claramente se pretende tirar Honduras da Aliança Bolivariana par as Américas (Alba). E Zelaya também foi eleito pela direita – apenas deu um giro à esquerda em 2008.

Presidente do Congresso entre 2002 e 2006, Lobo foi deputado por quase 20 anos, defendendo a destituição de Zelaya em junho. Hoje, porém, ele evita perguntas sobre o assunto. Entre as propostas de sua campanha estava a bolsa-família hondurenha.

Denúncia

Após acompanhar a votação de domingo de dentro da embaixada brasileira, Zelaya denunciou ontem fraude na contagem dos votos e disse não acreditar nas promessas de diálogo do candidato vencedor, Porfírio “Pepe” Lobo. “Houve fraude. Eles não podem provar que o comparecimento foi de 60%”, disse Zelaya ao jornal O Estado de S. Paulo. “Segundo minhas fontes, que acompanharam a votação, ele foi de 40%”, completou, sem explicar quais eram as fontes.

Para Zelaya, as eleições são ilegais, já que legitimam o golpe que o derrubou, em 28 de junho. O Congresso hondurenho tem prevista para amanhã uma reunião na qual decidirá se restitui o presidente deposto ou não. Segundo diversas fontes, as possibilidades de que ele seja de fato reconduzido ao poder, porém, parecem mínimas.

Além disso, o presidente deposto vem dizendo que não aceitaria retornar nessas condições porque os termos do Acordo San José-Tegucigalpa, firmado com o governo de facto, já não foram cumpridos. “Não posso apoiar essa mentira”, disse Zelaya.